sábado, 12 de janeiro de 2013

Estudo mapeia ilhas de calor na região metropolitana do Rio de Janeiro

À medida que a urbanização toma conta de espaços antes arborizados, formam-se ilhas de calor, intensificando-se a sensação térmica e o desconforto físico. Estudando o clima urbano, o geógrafo Andrews José de Lucena vem mapeando, em sua tese de doutorado, com recursos da FAPERJ, as ilhas de calor e de frescor no estado e constatando que, se nada for feito para mitigar essa tendência, a probabilidade é de formação de arquipélagos de calor.

"A partir dos anos 1970 e 1980, registrou-se um aumento de temperatura em todas as estações meteorológicas da região metropolitana – Praça XV, Bangu, Seropédica, Realengo e Campo dos Afonsos. A tendência é de que nas próximas décadas não só os verões estejam mais quentes, mas também os invernos", diz Andrews. Ele explica que isso acontece porque, nas áreas urbanas, a profusão de concreto e metais vem modificando as trocas de energia, ou seja, de calor.

"Em condições normais, a entrada de energia emitida pelos raios solares na atmosfera é igual à saída. Ou seja, a energia absorvida é liberada ao final do dia, quando a temperatura cai naturalmente. Com a urbanização e a verticalização de construções cada vez mais intensa, o que acontece é que concreto e metal são superfícies que absorvem mais e também demoram mais a liberar calor. Com essa troca alterada, reduz-se a liberação de calor latente e o resfriamento total, ao mesmo tempo em que aumenta a liberação de calor sensível, aquela que vem das superfícies de asfalto, concreto e metal", alerta. Ele lembra até que muitos dos aparelhos modernos, como o próprio ar-condicionado, liberam ar quente para o exterior e com isso também aumentam a temperatura das áreas externas.

Como seria de se esperar, no mapeamento da região metropolitana do Rio de Janeiro, os núcleos mais quentes se encontram nas áreas mais urbanizadas. "Dentro do próprio espaço urbano, podemos fazer comparações. As áreas que abrigam temperaturas mais altas estão no Centro e na Zona Norte – que compreende a área da chamada baixada da Guanabara, como Tijuca, Ramos, Bonsucesso, Méier e outros bairros da Leopoldina –, assim como em certos bairros da Zona Sul, como Botafogo e Copacabana", fala Andrews.

As ilhas de frescor, por outro lado – áreas de temperaturas mais amenas, de vegetação mais densa e construções mais planas –, estão na Zona Oeste e em parte da Baixada Fluminense e também em bairros da Zona Sul, como Gávea, Jardim Botânico e São Conrado. "Ao redor dos principais maciços da Pedra Branca e do Mendanha, na Zona Oeste, como Santa Cruz, Sepetiba e Guaratiba, e em parte da Baixada Fluminense, como Guapimirim e Magé", exemplifica o geógrafo.

Ele chama atenção para um fato curioso. "Às vezes, em certas áreas verticalizadas, formam-se canyons urbanos frescos. Isso porque nem sempre a incidência dos raios solares chega igualmente aos paredões de prédios. Alguns deles, pelo sombreamento intenso dos outros prédios, não chegam a receber sol e se tornam áreas mais frias, mesmo durante dias quentes."

Ao longo das décadas, a concentração de áreas quentes vai se consolidando, ao mesmo tempo que novas ilhas de calor vão se formando e se somando a elas. O que pode ser constatado por imagens de satélite. "Isso pode ser visto, por exemplo, na Zona Oeste e na Baixada Fluminense. À medida que a urbanização se intensifica, nos pontos onde já existem ilhas de calor, vão se concentrando as temperaturas mais elevadas, formando-se verdadeiros caldeirões de calor." Um exemplo pode ser o bairro de Bonsucesso. É onde se registram habitualmente as temperaturas mais altas. É também onde se registram altos índices de poluição, devido à atividade industrial e aos poluentes emitidos pelos veículos que transitam pela Avenida Brasil e outras vias do bairro.

"Outra consequência da urbanização é que, a longo prazo, as áreas quentes se concentram nos mesmos lugares, ao mesmo tempo que vão surgindo novas ilhas de calor próximas, formando verdadeiros arquipélagos. É o que vem acontecendo em alguns pontos da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, ou em áreas da região de São Gonçalo e Niterói, onde a urbanização tem se intensificado", diz.

Andrews explica também que nas áreas de maior concentração urbana a tendência é de chover mais que no entorno. "A liberação de poluentes nessas áreas funciona como núcleos de condensação. O que é fácil de entender. Uma vez na atmosfera, as partículas de dióxido de enxofre e dióxido de carbono, entre inúmeros outros elementos liberados pelos veículos e atividades industriais, por exemplo, se agregam às gotas de água e formam nuvens. A chuva que cai traz de volta todos esses elementos ao solo. É a chamada chuva ácida."

A situação, no entanto, não é irreversível, desde que sejam tomadas medidas para conter essas tendências. "Medidas simples, como o planejamento da ocupação urbana, o reflorestamento e arborização de determinadas áreas, assim como o investimento em novas tecnologias, como materiais de construção capazes de absorver menos energia, podem mitigar o agravamento dessas tendências", fala Andrews. Esse alerta é ainda mais importante em certas regiões, como a do porto de Itaguaí e seu entorno, incluindo-se aí Santa Cruz e Sepetiba.

"É uma área sensível e se não houver planejamento para sua ocupação e para o destino dos rejeitos que produzir, vai aquecer e possivelmente se tornar uma nova Cubatão. Como é área de baixada, ficará ainda mais suscetível a enchentes e inundações. Ali, será realmente necessário realizar obras de saneamento básico, projetos de arborização e especialmente desenvolver tecnologias para tratamento do lixo", resume.

Fonte: FAPERJ