quarta-feira, 23 de abril de 2014

Projeto de mosquito da dengue transgênico recebe aval do governo

Mais um passo foi dado para liberar mosquitos da dengue transgênicos no Brasil. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o projeto que permite a sua comercialização pela empresa britânica Oxitec. Isto significa que o projeto foi considerado tecnicamente seguro, mas ainda precisa de um registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser, de fato, liberado. Esse é o primeiro inseto geneticamente modificado a obter a licença no país.

A técnica consiste em adicionar dois novos genes em mosquitos machos, que após serem liberados na natureza, copulam com fêmeas do ambiente natural e geram descendentes incapazes de chegar à fase adulta. As crias também herdam um marcador que as torna visíveis sob uma luz específica para, assim, facilitar o seu controle.

A Oxitec faz testes desde 2011 na Bahia: num bairro de Jacobina e em dois de Juazeiro. Segundo balanço divulgado ontem, em seis meses diminuíram 79% dos mosquitos de Jacobina e 90% em Juazeiro.

— A empresa divulgou a redução de mosquitos, mas não se houve diminuição da incidência de dengue — criticou o professor da Universidade Federal de São Carlos (SP), José Maria Ferraz, ex-membro do CTNBio, que acompanhou as pesquisas envolvendo o transgênico. — A dengue é grave e é preciso buscar alternativas, mas não se pode colocar em risco a população antes de ter resultados. A tecnologia não é segura por vários motivos, e o Brasil está sendo cobaia de um experimento em larga escala nunca feito no mundo. Aprovamos o projeto de forma apressada e irresponsável.

A organização britânica GeneWatch também divulgou um alerta. Uma das maiores preocupações é que a diminuição do Aedes aegypti no ambiente acabe resultando no aumento da população do Aedes albopictus, outro vetor da dengue e ainda mais nocivo. Além disso, segundo Ferraz, falhas no sistema da Oxitec permitiriam a liberação indesejada de machos não estéreis e fêmeas, o que dificultaria o controle das espécies.

Já existe uma biofábrica em Juazeiro e outra em Campinas. Chefe de desenvolvimento de negócios da Oxitec, Glen Slade defende que um relatório de 900 páginas apresentado ao CTNBio aponta a eficácia da técnica. Ele explica, por exemplo, que os mosquitos normalmente voam 200 metros durante a vida, e a espécie transgênica raramente passa de 100 metros, o que ajuda no seu monitoramento.

— Nunca podemos dizer que existe zero risco, mas ele é bem pequeno — afirmou Slade. — A avaliação técnica, baseada na ciência, concluiu que esta solução é segura e pode ser usada contra os mosquitos da dengue, o que nos dá esperança contra essa ameaça.

(O Globo)