segunda-feira, 26 de maio de 2014

"É possível ser gordo e estar em forma e saudável"

Professor do departamento de Ciências do Exercício da Arnold School of Public Health, da Universidade da Carolina do Sul (EUA), Steven Blair ministra palestras no Congresso Internacional de Atividade Física e Saúde Pública, pela primeira vez no Rio. Ele é defensor do corpo saudável, o que, diz, não tem a ver com peso.


O senhor defende que pessoas acima do peso podem estar em forma e ser saudáveis. Como isso é possível?

Exato, é possível ser gordo e, ao mesmo tempo, estar em forma e saudável. Também é possível ser magro e estar fora de forma e sem saúde. A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 150 minutos de atividade física moderada por semana garantirá a boa forma ao indivíduo, seja gordo ou magro. O principal indicador dessa relação é que gordos fisicamente ativos têm 50% menos chances de morrer na década seguinte, se comparados a pessoas com peso normal e sedentárias. Publicamos vários artigos científicos sobre esse tema.

O senhor acredita, então, que damos atenção demais ao Índice de Massa Corporal (o IMC, relação entre peso e altura amplamente aceita para indicar se a pessoa está acima do peso ideal)?

O IMC não é uma medida útil para se aplicar a indivíduos. Ela tem algum valor para vigilância populacional. O IMC é uma medida muito dura, baseada em peso e altura. Existem algumas pessoas com alto IMC que têm pouca gordura, por exemplo atletas ou aqueles que fazem treinamento de muita força. O depósito de gordura corporal e visceral representa riscos para a saúde. Entretanto, a pessoa com um IMC de 33 (considerado obeso), com 7% de gordura corporal, não tem risco maior.

Poderíamos concluir que a inatividade física é pior do que sobrepeso?

Sim, indivíduos fora de forma têm muito mais risco de ter problemas de saúde do que os acima do peso. Falta de atividade física, que pode ser a causa de o indivíduo estar fora de forma, é um problema de saúde muito mais importante do que o sobrepeso.

Quais seriam os outros grandes vilões da saúde e do bem-estar, na sua opinião?

Existem outros marcadores obviamente importantes, tais como fumo, pressão alta, abuso de drogas, estresse crônico. Mas inatividade e baixo desempenho físico provavelmente causam mais mortes a cada ano do que qualquer outro fator de risco.

Existe algum tipo de exercício mais eficiente para a maioria das pessoas?

A recomendações é de 150 minutos de exercícios moderados, como caminhadas, por semana. Tanto atividades quebradas, de 10 em 10 minutos por dia, quanto duradouras, de 75 minutos, têm os mesmos benefícios. Também aconselhamos que adultos façam dois dias de treinamento de força por semana. O tipo específico de exercício não é muito relevante. O importante é fazer algo.

O indivíduo que não consegue atingir esse mínimo pode ter benefícios? Ou nem vale a pena fazer?

A recomendação mínima é essa na maior parte dos países. Entretanto, sabemos que algum exercício é melhor do que nenhum; e ficar em pé é melhor do que ficar sentado.

Qual é a sua experiência com a atividade física? E com o sobrepeso?

Sou bastante ativo (mais de cinco milhões de passos por ano nos últimos quatro anos, e em forma para um homem de 74 anos). Também sou obeso. Tenho lutado com peso toda a minha vida. Eu sempre fui ativo. Era atleta na escola e na faculdade. Corri a minha primeira maratona em 1969. Agora minha atividade principal é caminhar, embora também faça um pouco de corrida. Também tento fazer dois treinamentos de força por semana.

Um estudo seu sustenta que pessoas ativas, mas que passam o dia em atividades sedentárias, como trabalhando na frente do computador, têm 64% mais chances de morte cardíaca. Isso não é desanimador?

Essa é uma área carente de mais pesquisas, mas esses que seguem as diretrizes e ficam sentados a maior parte do dia têm, sim, risco aumentado. É aconselhável fazer vários intervalos ao longo do dia; levantar da cadeira e passar alguns minutos se movimentando.

(O Globo)