quarta-feira, 23 de julho de 2014

Pesquisa questiona benefício da mamografia para mulheres com menos de 60 anos

Um novo estudo feito no Canadá concluiu que submeter-se a mamografia todos os anos não diminui o risco de morte por câncer de mama em comparação com realizar apenas exames físicos para detectar a doença. A pesquisa, uma das maiores já realizadas sobre o assunto, avaliou cerca de 90 000 mulheres de 49 a 59 anos ao longo de 25 anos.

Ainda segundo o trabalho, um em cada cinco casos de câncer de mama diagnosticados pelo exame durante o estudo não representava uma ameaça à saúde da mulher — ou seja, não precisaria ser combatido com quimioterapia, radioterapia ou cirurgia.

A mamografia é indicada para a detecção precoce de câncer de mama. Não há uma regra que determine a partir de qual idade uma mulher deve ser submetida ao exame, ou com qual periodicidade. O que existem são recomendações de entidades médicas e órgãos públicos a partir de fatores econômicos e pesquisas consistentes sobre o assunto. O Instituto Nacional do Câncer (Inca), por exemplo, recomenda a mamografia a cada dois anos para mulheres entre 50 e 60 anos.

As diferentes diretrizes e a postura dos médicos sobre a mamografia estão longe de alcançar um ponto em comum. Por um lado, o exame pode detectar tumores potencialmente agressivos, de modo que as pacientes comecem um tratamento precoce e aumentem suas chances de sobreviver. Por outro, existe a possibilidade de haver diagnósticos em excesso, ou seja, de detectar e tratar cânceres inofensivos, que não apresentariam sintomas ou colocariam a vida da paciente em risco.

No novo estudo, que começou em 1988, parte das participantes foi submetida a mamografias e exames físicos anuais durante cinco anos. Em um grupo de controle, ficaram as participantes que fizeram apenas os exames físicos. Todas foram acompanhadas ao longo dos anos seguintes.

Até o final do estudo, 3 250 mulheres do grupo da mamografia e 3 111 do grupo de controle foram diagnosticadas com câncer de mama, sendo que a doença resultou na morte de 500 e 505 delas, respectivamente. Ou seja, a taxa de mortalidade foi praticamente a mesma. A pesquisa completa foi publicada nesta terça-feira no periódico British Medical Journal.

De acordo com os pesquisadores, os resultados sugerem que é necessária a reavaliação de algumas características do rastreio do câncer de mama pela mamografia. Em um editorial publicado junto com o estudo, pesquisadores da Universidade de Oslo, na Noruega, defendem que mamografia anual não deve ser recomendada a mulheres com menos de 60 anos. Eles concordam que a indicação da mamografia precisa ser revista – mas acreditam que seria uma tarefa difícil, já que “o governo, fundos de pesquisa, cientistas e médicos podem ter interesse em continuar as atividades assim como estão estabelecidas”, escrevem.

Segundo a radiologista Elvira Marques, diretora do serviço de imagem das mamas do Hospital A. C. Camargo, a pesquisa canadense apresenta uma série de ressalvas. “As cinco mamografias anuais do estudo foram realizadas entre 1988 e 1992. Desde então, a qualidade do mamógrafo aumentou, a técnica do exame foi aperfeiçoada e a preparação das pessoas que realizam o exame está melhor”, disse a médica ao site de VEJA. “Além disso, as pessoas que realizaram as mamografias nesse estudo foram treinadas durante apenas um mês, o que é muito pouco.”

Em entrevista ao jornal The New York Times, Richard Wender, da Sociedade Americana do Câncer, disse que a combinação dos resultados de estudos sobre mamografia mostra que, na verdade, o exame reduz a taxa de mortalidade por câncer de mama em ao menos 15% entre mulheres na faixa dos 40 anos e em 20% ou mais entre pacientes mais velhas. Segundo ele, a mamografia, assim como o avanço dos tratamentos contra a doença, é responsável pela queda do número de mortes pela doença.

(Veja)