quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Japão considera retorno à energia nuclear após Fukushima


A discussão entre os adeptos e adversários da energia nuclear do Japão se aprofundou desde a eleição do parlamento, em meados de dezembro. "Não à ligação dos reatores", "Contra a energia nuclear", entoavam cerca de mil manifestantes na última sexta-feira do ano, diante do gabinete do novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em Tóquio.
Esta foi a 37ª passeata de sexta-feira desde o início das manifestações, no primeiro trimestre, segundo os militantes da Metropolitan Coalition against Nukes ("coalizão metropolitana contra energia nuclear"). Porém, as perspectivas de sucesso dos protestos diminuíram sensivelmente, pois Abe é um defensor declarado da energia nuclear.
Novo premiê Shinzo Abe é defensor declarado da opção atômica. Mas acidente em usina deixou marcas profundas. Desconfiança da opinião pública e normas de segurança mais rigorosas são obstáculos a reativação dos reatores.
Após tomar posse, o chefe de governo chegou a anunciar a construção de novos reatores. Seu Partido Liberal Democrático (LDP) é a principal facção pró-nuclear do Japão. Há décadas, o partido pertence ao inabalável triângulo de burocracia, indústria e ciência que não permitia a menor dúvida quanto à segurança das usinas atômicas.
Mas o desafio ainda não se encerrou: pela primeira vez em sua história, a humanidade se encontra diante de trabalhos de remoção de escombros de tamanha proporção. Sua vitória levará à "reconstrução de Fukushima e do Japão", assegurou o chefe de governo. E apenas acrescentou que será preciso "mais do que desejos" para realizar o abandono da energia nuclear no país.No entanto, em sua primeira visita aos reatores destruídos de Fukushima, Shinzo Abe guardou para si sua opinião sobre o assunto, preferindo louvar a dedicação dos trabalhadores: "Sua coragem é a esperança e o futuro do Japão", disse.
Já o ministro de Indústria e Economia, Toshimitsu Motegi, foi bem mais explícito. "Ainda não nos decidimos quanto à política visando um abandono da energia termonuclear até a década de 2030." Desse modo, ele se distanciou da política do governo anterior.
Entretanto, Motegi quer deixar a ação nas mãos do novo departamento de supervisão nuclear, que desde o terceiro semestre de 2012 não mais está subordinado a seu ministério. O ministro reivindica que os 48 reatores desligados sejam reconectados à rede de energia, caso o Departamento de Regulação Nuclear do país (NRA, na sigla em inglês) confirme que são seguros.
Apesar de tudo, o lobby da energia nuclear deixou de existir em sua antiga forma. Antes, todos os envolvidos faziam acordos por debaixo dos panos e se apresentavam sempre perfeitamente coesos. Hoje, isso não ocorre mais.
O novo presidente da NRA, Shunichi Tanaka, contradisse Motegi ainda no mesmo dia, alegando que, devido à demanda de tempo, é impossível constatar a segurança de todos os reatores num prazo de três anos. E Tanaka não julgou necessário nem mesmo comunicar pessoalmente sua opinião ao novo ministro, aproveitando para tal uma entrevista ao jornal japonês Asahi Shimbun.
Em última análise, a política atômica de Tóquio pouco se distinguirá daquela do governo anterior. O gabinete do primeiro-ministro Yoshihiko Noda propagava a meta de abandonar a energia atômica em menos de 30 anos, sem, no entanto, estabelecer passos concretos para atingir tal fim. Pelo contrário: o governo Noda até aprovara a construção de dois novos reatores – cuja conclusão foi suspensa após o desastre da usina de Fukushima.
Até o momento, nem Abe nem Motegi esclareceram se desejam restringir a 40 anos o tempo de vida útil dos reatores, como foi decidido pelo governo anterior, que no entanto, não criou uma lei sobre o assunto.
Durante sua campanha eleitoral, o primeiro-ministro Shinzo Abe defendeu que o Japão não poderia arcar com o abandono da energia nuclear, por motivos econômicos. Mas ressalvou que uma insistência em utilizar um excesso de energia atômica poderia sair cara para o país.Da mesma forma, o atual governo ainda não se manifestou quanto a uma eventual intenção de quebrar o monopólio dos fornecedores regionais de eletricidade. Aliada a custos elevados por conta de normas de segurança mais rigorosas, uma competição mais acirrada poderá tornar a construção de novos reatores no Japão desinteressante para as operadoras.
Em sua visita a Fukushima, Abe se expressou de maneira cautelosa: "Desejo uma política de energia responsável". Ele prometeu que, nos próximos três anos, seu governo expandirá ao máximo as fontes alternativas e, num prazo de dez anos, decidirá sobre a melhor combinação energética para o país.
Assim, o retorno a um "Japão superpotência atômica" parece, antes, improvável.

Fonte: Deutsche Welle 
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