Imediatamente, autoridades eclesiásticas e estudiosos tentam achar explicações, entre elas o estado de saúde e as implicações na função de Chefe da Igreja, com viagens e compromissos internacionais. E, em meio dessas notícias, nos deparamos com uma informação surpreendente: o Papa tem um marca-passo! Mais ainda: foi recentemente submetido a uma pequena cirurgia para a troca da bateria do aparelho! Será que, enfim, esse é um motivo para o ocorrido?
Não, não é. É bom esclarecer o assunto, já que é um erro comum que nós, especialistas em alterações do ritmo cardíaco, nos deparamos, isso sim, diariamente. E, por isto, se faz necessário explicar à população leiga sobre os implantes de dispositivos implantáveis, como marca-passos e desfibriladores (CDIs).
Especificamente para este caso, vale uma curta e objetiva explicação: O que é um marca-passo? O coração tem um sistema elétrico natural, que comanda o ritmo cardíaco todos os dias, ininterruptamente, desde antes do nascimento. Mas esse sistema pode apresentar falhas, por desgaste ou até mesmo por problemas antes do nascimento. Nesses casos, o coração pode bater mais lentamente do que o necessário, podendo acarretar em riscos para a saúde ou para a vida. Assim, na metade do século passado foram desenvolvidos aparelhos implantáveis que, através de circuitos eletrônicos, garantem o ritmo cardíaco. Com o tempo, os aparelhos foram aperfeiçoados, e os mais modernos têm novas funções, como a possibilidade de tratamento de paradas cardíacas, ou que auxiliam alguns casos de enfraquecimento do músculo cardíaco.
Essas pequenas maravilhas da tecnologia, que normalmente têm o tamanho de uma bateria de telefone celular, salvam milhões de vidas no mundo todo. Na Unicamp, assim como em vários hospitais no Brasil e no mundo, os implantes são procedimentos rotineiros. E, periodicamente, é feita a análise por aparelhos especiais, que indicam, inclusive, qual o momento da troca da bateria, que é feita através de um procedimento cirúrgico relativamente simples.
Mas é comum relacionar a prótese a incapacidades físicas e laborais, embora na maior parte dos casos isso não ocorra. Quando é indicada a colocação do aparelho, o objetivo é fazer com que o paciente retome uma vida praticamente normal. Existem pequenas limitações, sim, que são explicadas pela equipe ao paciente ou aos familiares. No entanto, o que muitas vezes ocorre é a progressão da doença que levou ao aparecimento do distúrbio do ritmo. Nesses casos, o prognóstico depende da doença cardíaca, e não do uso do marca-passo. O eletrodo também pode captar a atividade do coração e transmitir esta informação ao marcapasso, alguns podem adaptar de forma automática a sua pulsação de estimulação às condições fisiológicas de cada paciente.
Deve haver, portanto, outras causas para a renúncia. A profundidade do debate, e o interesse sobre o tema, dependem de cada um. Mas estou certo de que o Papa fez sua escolha com liberdade e sabedoria. E espero que ele continue com saúde e com a pilha nova: o marca-passo poderá ajudá-lo nessa nova fase!
Fonte: Márcio Jansen de Oliveira Figueiredo, Coordenador de Relações Institucionais da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC)