LER/DORT, sigla para Lesões por Esforços Repetitivos (LER), ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) é uma doença ocupacional responsável pela maioria dos afastamentos em empresas do país. O dia 28 de fevereiro é uma data de conscientização e combate a essa síndrome, e o Blog do Trabalho entrevistou a médica, pesquisadora da Fundacentro e co-autora do Protocolo de LER do Ministério da Saúde, Maria Maeno:
Blog do Trabalho - Doutora Maria Maeno, a LER/Dort atinge muitos trabalhadores, a prevenção é a melhor forma de combater essa doença?
Dra. Maria Maeno - Sempre é melhor prevenir qualquer doença. Mas se não conseguirmos prevenir a ocorrência de uma doença, temos que nos esforçar para prevenir agravamentos e repercussões sobre a vida da pessoa, seja no aspecto pessoal seja no aspecto profissional.
Quais são os profissionais com maior risco de ter a doença?
Um estudo da Previdência Social concluiu que centenas de ramos econômicos são relacionados com os transtornos musculoesqueléticos, dentre os quais as LER/DORT. Esse estudo resultou numa decisão importante da Previdência Social, que por meio de uma mudança legal, acrescentou o critério epidemiológico para estabelecer o nexo causal entre um adoecimento e o trabalho. Essa mudança, em vigor desde 2007, teve um papel importante para diminuir a subnotificação das doenças ocupacionais. Muitos estudos envolvem bancários, caixas, operadores de teleatendimento, montadores, embaladores, profissionais de saúde, professores, etc.
Quais são os principais sintomas?
Os sintomas são dor, formigamento, dormência, choque, fadiga. Inicialmente aparecem esporadicamente durante a jornada de trabalho, depois duram toda a jornada, depois invadem os momentos de lazer e repouso, finais de semana, férias, até se tornarem crônicos.
E o que o trabalhador deve fazer ao perceber que está com alguns desses sintomas?
Os trabalhadores com sintomas devem procurar os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e também os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador de sua região, que poderão orientá-los quanto à rede de tratamento. Em todas as regiões do país há um Centro de Referência em Saúde do Trabalhador.
Como o Brasil encara atualmente a LER/DORT? Há uma conscientização da sociedade?
Eu pergunto: como a sociedade vê as doenças relacionadas ao trabalho? Algumas convicções são muito fortes na população e são fomentadas por determinados segmentos sociais. Uma delas é a de que quem quer ter saúde tem. Daí, as campanhas para a alimentação balanceada, para os exercícios físicos. Não hã divergências sobre os benefícios de uma alimentação balanceada. A questão é: como é que a maioria população pode ter acesso a essa alimentação balanceada? O mesmo digo para os exercícios físicos. É preciso também que as pessoas tenham acesso efetivo. No mundo do trabalho não se tem autonomia para trabalhar num ritmo adequado, ou de maneira diferente, além dos trabalhadores serem pressionados para atingir metas inalcançáveis. Portanto, o poder de não adoecer não está nas mãos do trabalhador e sim nas da empresa. Outra convicção forte é a de que algumas doenças são inerentes a determinadas funções e isso não deveria ser aceito pela sociedade
E a outra convicção é a de que, sendo informado ou capacitado ou treinado, pode-se evitar as doenças. Os trabalhadores podem ser informados e capacitados, mas as exigências do trabalho acabam fazendo-o adoecer. Assim, o objeto das ações do poder público deve ser o das condições e da organização do trabalho e não na capacidade individual de resistir ao adoecimento.
O Ministério da Saúde determinou que 11 agravos ocupacionais são de notificação compulsória ao Sistema de Informação dos Agravos de Notificação (SINAN), assim como outras tradicionalmente notificadas: sarampo, tétano, coqueluche, meningite, etc. Para isso publicou protocolos de diagnóstico e notificação. A Fundacentro fez um vídeo que informa sobre procedimentos para notificação ao SINAN, que ficará no portal da instituição. O Ministério do Trabalho e Emprego publicou normas referentes aos caixas e teleatendimento. Essas são algumas das ações positivas do poder público.
Fonte: Blog do Trabalho - MTE