Hoje é comemorado o Dia Nacional de Prevenção e Combate a Hipertensão Arterial. A hipertensão é responsável por 80% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) - que também aponta a pressão elevada como causa para 40% dos casos de enfarte e 25% dos quadros de insuficiência renal terminal. "Os sintomas só aparecem quando surgem lesões em órgãos importantes, como rins e coração. Há uma cultura de a pessoa só se preocupar quando está sentindo algo diferente", esclarece o presidente da SBH, o cardiologista Fernando Nobre. Segundo ele, a doença é democrática. "Afeta todas as faixas etárias, entretanto é mais frequente nas idades mais avançadas", completa.
Apesar de ter graves consequências, a hipertensão é um quadro tão comum que muitas vezes é tratada com banalidade. "No Brasil, 35% das pessoas têm hipertensão e a metade delas não sabe disso. Das 300 mortes por eventos cardiovasculares que acontecem anualmente no Brasil, 80% tem no registro de óbito a hipertensão como causa. E a maioria das pessoas só descobre a situação quando há um aumento súbito", observa o cardiologista e especialista em hipertensão do Hospital do Coração de São Paulo, Celso Amodeu.
Mesmo quem está ciente de que sofre de hipertensão demora a acreditar que ela possa mesmo ser tão perigosa. De acordo com dados da SBH, apenas 10% dos pacientes segue a orientação médica para tratá-la. Nem mesmo entre os profissionais da saúde o nível da pressão arterial é tratado como prioridade: a SBH indica que em só 29% das consultas feitas no País o médico realiza a medição.
Para tentar reverter esse quadro, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) prepara a campanha "Sem sal", que será lançada em abril, mês do combate à hipertensão. "O objetivo é atingir a população em geral e também os fabricantes de produtos industrializados. Cerca de 70% do sal que consumimos vem dos alimentos já prontos. Hoje, esses produtos não precisam mais do sal como conservante", adianta o diretor de Promoção à Saúde Cardiovascular da SBC, Dikran Armaganijan.
A aposentada Maria Pesto, 75 anos, já se habituou a manter uma alimentação saudável para controlar a hipertensão. Ela conta que foi surpreendida pela doença há 15 anos, época em que não aferia a pressão. "Como não sentia nada de errado, ficava despreocupada. Hoje, anos depois, nem sinto falta daquilo que tive que deixar, como o sal e as comidas gordurosas", diz ela, que pela ausência de sintomas demorou a ter o problema diagnosticado. Atualmente, Maria frequenta reuniões mensais na Associação Paulista de Assistência ao Hipertenso (www.apah.org.br), que tem cerca de 1.500 associados.
Para não exagerar no sal, considerado pelos especialistas o principal responsável pela hipertensão, Maria segue à risca a recomendação do médico: uma colher de café, rasa, é o volume máximo que ela pode usar por dia do condimento ao cozinhar. "O que podemos tolerar é uma ingestão diária de, no máximo, 6 gramas", indica Nobre. Vale lembrar que o sal também tem funções importantes no organismo e, portanto, não pode ser cortado completamente. "Na falta dele há risco de ter inchaço e hipotensão", afirma o cardiologista do Hospital do Coração, Daniel Magnoni.
É o estilo de vida que vai determinar se um individuo com tendência genética à hipertensão (com histórico de familiares que tiveram o quadro) desenvolverá a doença quanto se um indivíduo que já foi diagnosticado como hipertenso conseguirá controlar a situação.
Além de manter uma alimentação saudável, evitando o excesso de sal e de itens industrializados, é preciso abandonar o tabagismo e o álcool, além de fugir do sedentarismo. "Indico a caminhada três vezes por semana, que não tem contraindicações e nem custos financeiros", diz o cardiologista Celso Amadeu, especialista do Hospital do Coração.
Segundo Amadeu, a prevenção e o tratamento da hipertensão dependem diretamente dos hábitos de vida, mais do que das medicações. "Em alguns casos há o tratamento com remédios, prescritos pelo médico de acordo com a pessoa."
O sal é considerado um vilão para quem tem hipertensão por causa de seu principal componente, o cloreto de sódio - um mineral que retém líquido no organismo, aumentando a pressão arterial e o trabalho dos rins. Segundo a SBH, em excesso até o pãozinho francês é perigoso: 1 unidade tem um grama de sal. Seis unidades, isso se a pessoa não ingerir nenhum outro alimento no dia, já estouram a cota diária de sal recomendada pelo Ministério da Saúde. Confira abaixo quem são os campeões do sal.
RANKING DO SÓDIO (Valores de sódio para cada 100 gramas de alimento).
ALTO TEOR DE SÓDIO:
- Macarrão instantâneo: 1516 mg
- Queijo parmesão: 1844 mg
- Shoyo: 5024mg
MÉDIO TEOR DE SÓDIO:
- Batata chips: 607 mg
- Biscoito recheado: 239mg
- Biscoito cream craker: 854 mg
- Coxinha de frango frita: 532 mg
- Extrato de tomate: 498 mg
- Palmito em conserva: 514 mg
Fonte: Agência Estado