sábado, 4 de maio de 2013

Desenvolvimento celular de doenças é objeto de estudo para controle de câncer e de envelhecimento


Em uma pesquisa com vistas ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra o câncer, a pesquisadora espanhola María Blasco, diretora do Centro Nacional de Investigações Oncológicas (CNIO), busca conhecer detalhes dos mecanismos do envelhecimento celular, que se iniciam após o nascimento, para aplicar o mesmo princípio no controle da doença por meio do impedimento da renovação celular do tumor.
Para isso, ela estuda o papel dos telômeros, que são a parte mais extrema dos cromossomos, responsáveis por manter a integridade e funcionalidade das células, e da telomerase, enzima responsável por manter intactos os telômeros, bem como sua capacidade de adicionar sequências específicas e repetitivas do DNA.

O estudo foi apresentado em Madri durante o “Fronteras de la Ciencia – Brasil y España en los 50 años de la FAPESP”. O simpósio integra as comemorações dos 50 anos da FAPESP e reuniu em Salamanca e em Madri em dezembro passado, pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa paulistas e de diferentes instituições congêneres do país ibérico.
Segundo Blasco, os genes embrionários, com características que denomina em sua pesquisa como “células onipotentes”, são capazes de reconhecer a presença, nos cromossomos, dos telômeros, responsáveis pela adição de novas sequências celulares, garantindo a renovação celular e, em última instância, a manutenção das próprias espécies.
A telomerase, que se interrompe no momento do nascimento e deixa de se expressar na maior parte dos tecidos, faz com que as células se deteriorem de maneira progressiva, com o simples passar do tempo. Esse comportamento é apontado por Blasco como uma das causas do envelhecimento.
O que ela e sua equipe tentam, agora, é descobrir como esse processo é interrompido, para reproduzir essa interrupção também nas células cancerosas, que, ironicamente, conseguem reativar o mecanismo de renovação da telomerase, tornando-se capazes de renovar constantemente seu conjunto de células tumorais e, consequentemente, manter o desenvolvimento constante da doença.
“Quando os telômeros perdem sua capacidade de ação ocorre a morte celular. Por contraste, as células do câncer seriam imortais, precisamente, por serem capazes, de maneira aberrante, de reativar a telomerase, o que ocorre na grande maioria dos tumores humanos”, disse Blasco àAgência FAPESP.
Segundo a pesquisadora, mais de 95% dos tumores humanos têm que reativar a telomerase para escapar de um “destino de morte”, inerente às células.
A busca dos pesquisadores em Madri está concentrada em uma terapia gênica para o tratamento do câncer, mas deixa entrever uma possibilidade de conhecimento que se amplia para todo o processo de envelhecimento.
“Olhamos para esta questão porque sabemos que, ao medir a ação dos telômeros, poderemos entender como eles atuam no processo de envelhecimento celular em todos os tecidos, incluindo as células-tronco. A ação do câncer visa reativar a telomerase para interromper o processo de envelhecimento do tumor, e é esse mecanismo que pretendemos dominar”, disse Blasco.
Medição da saúde
Para o grupo do CNIO, também há evidência genética de que a telomerase é determinante para o processo de envelhecimento. “Algumas pessoas apresentam uma patologia denominada síndrome telomérica, que consiste em mutações nos genes da telomerase ou em genes importantes para seu funcionamento”, disse Blasco.
Basicamente, essas mutações levam a enfermidades que se caracterizam pela perda prematura da capacidade de regeneração dos tecidos. Por isso, a medição dos telômeros poderia ser uma maneira de medir a própria saúde, com a possibilidade de prever enfermidades e propor novos tratamentos.
Os cientistas espanhóis ainda se detêm sobre a análise, em modelos animais, da toxicidade dos materiais voltados para a reativação da telomerase, que poderiam levar ao desenvolvimento de fármacos, uma das possibilidades resultantes desses estudos.
Atualmente, a equipe de Blasco desenvolve modelos para medir o efeito da telomerase no organismo e dominar processos que sirvam para aumentar o período de vida saudável, ou seja, tornar as pessoas menos suscetíveis a enfermidades.
“Os genes se encarregam de eliminar as células doentes. Ao dominarmos esse processo, poderíamos aumentar a telomerase e, consequentemente, desenvolver estratégias terapêuticas para aumentar o tempo de vida livre de doenças”, disse.

Fonte: Samuel Antenor, Agência FAPESP