Exceto o cação, que não à toa é apelidado de lixeiro do mar, os outros estavam dentro dos limites de tolerância estipulados pelo Ministério da Saúde brasileiro. E há ainda que considerar os níveis de segurança criados pela comissão científica da Organização Mundial da Saúde. Ou seja, pitadas desses metais, embora sejam terríveis, são até toleráveis. Os especialistas ouvidos pela revista foram unânimes em afirmar que não é preciso eliminar de vez toda a proteína marinha do cardápio.
Poluição. Ela é a grande culpada pela contaminação de pescados. "Desde os metais usados no garimpo até dejetos de grandes indústrias, muitas substâncias nocivas vão parar nos rios e acabam desaguando no mar", conta a química Dilza Maria Bassi Mantovani, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos, o Ital, que fica em Campinas, no interior paulista. Assim, não importa se o peixe é de água doce ou salgada. O perigo mora principalmente nas águas dos arredores de fábricas de baterias, tintas, lâmpadas fluorescentes e soda cáustica. Mercúrio, chumbo e arsênio são componentes assíduos na fabricação desses produtos. "O problema é quando a indústria não tem o mínimo cuidado com o meio ambiente e deixa o veneno escoar sem dó nem piedade", enfatizaoquímico Marcelo Morgano, que também é pesquisador no Ital.
Na região amazônica o mercúrio é usado para refinar o ouro nas minerações. E os peixes que nadam por ali acabam em meio a resíduos do composto. Um trabalho recente realizado pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, feito com 30 espécies de pescado, acusa que: 65% delas estavam contaminadas com o metal — e acima dos teores permitidos. E não apenas a água contém o veneno. As plantas aquáticas também. Como servem de alimento para os peixes, eles acabam se entupindo de mercúrio. "O metal se acumula em todos os tecidos do organismo, chega mesmo a atravessar a parede celular", descreve o químico Aricelso Maia Lima Verde Filho, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E isso vale tanto para o peixe como para o homem. A péssima fama do mercúrio vem da década de 1960, quando correu mundo a notícia da contaminação de uma baía no Japão. Quem relembra esse triste episódio é o professor Aricelso. "Foram relatados casos de enjôo, dor de cabeça e até morte", diz. Parece que o mercúrio prefere o sistema nervoso. Por isso crianças precisam ficar a léguas de distância dele. "As gestantes também devem evitá-lo, já que esse metal é capaz de atravessar a placenta", alerta o farmacêutico Alfredo Tenuta Filho, da Universidade de São Paulo.
O chumbo, por sua vez, gosta de se alojar nos ossos. "Ele compete com o cálcio", diz a nutricionista Késia Quintaes, doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em outras palavras, danifica o esqueleto. Já o arsênio, que infelizmente apareceu em peixes do litoral paulista, segundo uma análise realizada pelo Ital, é capaz de provocar tumores e tem sido associado a danos no fígado.
"É impossível ver as substâncias a olho nu", responde a pesquisadora da Secretaria Municipal da Saúde Rute Villatore, que, ao lado seu colega Cláudio Fukumoto, analisou os pescados para esta reportagem. Pior: não tem cozimento que elimine metais pesados."Uma medida de segurança é tentar descobrir de que região eles vêm", sugere Aricelso Lima Verde, evitando se for de locais reconhecidamente poluídos.
Qual o limite para os peixes?
O peixe até pode ter uma pitada de metal pesado. Eis as dosagens de segurança estipuladas pelo Ministério da Saúde:
- Mercúrio - Peixes predadores: 1 miligrama por quilo. Outros peixes: 0,5 miligrama por quilo.
- Chumbo - Para todos os peixes: 2 miligramas por quilo.
- Arsênio - Para todos os peixes: 1 miligrama por quilo.
E qual o nosso limite?
A Organização Mundial da Saúde considera como segura a ingestão de ínfimas porções:
- Mercúrio - 5 microgramas por cada quilo do seu peso por dia. Assim, uma pessoa de 60 quilos pode ingerir até 300 microgramas por dia.
- Chumbo - 25 microgramas por quilo de peso por dia. Ainda tendo como base os mesmos 60 quilos, são permitidos até 1,5 mil micrograma.
- Arsênio - De 0,1 a 7,20 microgramas por dia por quilo de peso.
Fonta: Revista Saúde!