Em reunião com representantes do Consórcio da Linha 4 e técnicos da prefeitura, no fim da tarde deste domingo, o subsecretário municipal de Defesa Civil Márcio Motta decidiu determinar a interrupção das obras de escavação do metrô em Ipanema até que seja identificada a causa do problema que levou a abertura de crateras na Rua Barão da Torre. Outra exigência da Defesa Civil é a apresentação de medidas de segurança para a continuidade dos trabalhos. No encontro, Motta questionou o fato de a prefeitura ter sido acionada primeiramente por moradores da região afetada, quando, pelo plano de emergência, deveria ter sido o próprio consórcio a informar sobre a ocorrência.
A medida foi adiantada no perfil da Defesa Civil no Twitter, na noite deste domingo, quando uma mulher perguntou se era normal a cratera que se abriu na calçada de sua rua e obteve a seguinte resposta: “Não há nada de normal, tanto que determinamos a interrupção das escavações até que sejam apresentadas as causas e garantias para o prosseguimento das obras”.
Mais cedo, a Defesa Civil havia divulgado uma nota à imprensa informando que as vistorias realizadas nos edifícios 132, 135, 137 e 138, da Rua Barão da Torre, que ficam ao lado das obras do metrô e tiveram duas crateras abertas na calçada de madrugada, não tinham indícios de risco estrutural.
O gerente de produção do Consórcio da Linha 4, Aloísio Coutinho Júnior, reforçou no início da tarde deste domingo que não há risco de desabamento dos prédios da Rua Barão da Torre. Segundo o representante do consórcio, equipes já conseguiram estancar a movimentação do solo e trabalham na limpeza e no monitoramento do local.
De acordo com Aloísio, a causa da movimentação de terra que provocou o afundamento do piso está sendo estudada e eventuais prejuízos dos moradores serão pagos. O engenheiro informou, ainda, que as concessionárias de serviços públicos foram acionadas assim que foi detectada a movimentação do solo. Ele garantiu que a situação está sob controle. No entanto, a empresa ofereceu quartos em hotéis para quem não se sentir seguro.
Especialistas alertam para a possibilidade de haver novos afundamentos em Ipanema. E ressaltam que estudos mais aprofundados devem ser realizados nas obras da Linha 4 Sul para avaliar os riscos a prédios.
Para o engenheiro civil Roberto Lozinsky, especialista em construções, o afundamento de vias pode ser consequência de mudanças no solo, provocadas ou não por obras. Ele acredita, no entanto, que o consórcio responsável pela Linha 4 Sul esteja fazendo um monitoramento intenso.
— Se há um fluxo de água subterrâneo intenso, num dado momento, as paredes cedem. Pensando que o solo é arenoso e é uma obra (Linha 4) de grande porte, a abertura de uma cratera pode ocorrer, assim como as rachaduras podem ser consequência de movimentação no solo — disse Lozinsky.
Moacyr Duarte, especialista em análise de acidentes e planejamento de emergência e pesquisador da Coppe/UFRJ, também explica que o rompimento do solo em Ipanema pode ter sido causado tanto pelo impacto de obras, como, por exemplo, por um cano estourado:
— Por algum motivo, o suporte do solo saiu e ficou oco. Isso pode ter relação com as obras do metrô ou não. O importante, agora, é descobrir o que aconteceu e verificar, o mais rapidamente possível, as calçadas ao redor da obra, para ver se estão ocas também.
Já para o arquiteto Canagé Vilhena, o problema em Ipanema revela que há falhas na fiscalização, tanto por quem realiza a obra, quanto por quem monitora o processo:
— Esse acidente poderia ter sido evitado com mais fiscalização. É preciso dar segurança a moradores, pedestres e trabalhadores.
(O Globo)