sábado, 31 de outubro de 2009

Fundição de metal tem elemento tóxico acima do limite

A partir da coleta de amostras de partículas em suspensão na atmosfera de uma indústria de fundição, pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP, em Piracicaba, encontrou picos de concentração de elementos químicos potencialmente tóxicos, como chumbo,níquel e cromo, até 100 vezes maiores que as concentrações médias estabelecidas por órgãos ambientais. Durante o processo de fundição de metais, essas substâncias podem estar presentes na forma de Material Particulado em Suspensão Atmosférica (MPS).

O pesquisador e professor Paulo Rogério Massoni obteve as amostras com uma nova técnica, usando um coletor de aerossois automatizado associado a uma bomba de vácuo, que separa partículas por tamanho. “A rotação de filtros para particulado fino e grosso, no interior do amostrador, permitiu programar a realização da coleta em intervalos de 20 minutos ao longo do dia de trabalho”, explica. “Isso possibilitou a análise periódica da qualidade da atmosfera ambiente e dos momentos mais críticos de exposição dos trabalhadores durante o processo de fundição”.

As amostras foram analisadas por meio da fluorescência de raios X por dispersão de energia. “Ao ser irradiado, cada elemento presente no filtro emite um raio X característico”, descreve Massoni. “Quanto maior o número de elementos e suas quantidades presentes nas amostras, mais raios X característicos são detectados, possibilitando o cálculo de suas concentrações por metro cúbico de ar em cada momento programado de coleta e na média diária no ambiente de fundição.”

Os maiores picos de concentração de elementos no MPS aconteceram durante o processo de moldagem, quando o material fundido era levado para o molde. Os valores foram comparados às concentrações estabelecidas como limites pelas agências ambientais nacionais e internacionais. “Na fundição de ferro, por exemplo, a concentração média diária de chumbo no particulado atmosférico foi 34 vezes maior do que a estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, ressalta o pesquisador. “No momento da moldagem, obteve-se pico de concentração de chumbo 100 vezes maior que o limite.”

O estudo também encontrou níveis elevados de cromo e níquel, que são elementos carcinogênicos (associados à ocorrência de câncer). “Na fundição de bronze, as concentrações de níquel e cromo atingiram, respectivamente, médias 3 e 60 vezes maiores que a estabelecida pela Fundação Nacional de Saúde, [Funasa]“, aponta o professor. “Na fundição de ferro, esses valores foram, respectivamente, 12 e 140 vezes maiores”.

O material particulado na atmosfera das fundições entra no organismo pelas vias respiratórias podendo chegar aos alvéolos pulmonares (no caso do MPS fino) e trazer sérios riscos para a saúde ao entrar na corrente sanguínea. “Dos elementos detectados, o chumbo é um dos mais perigosos, pois pode provocar danos neurológicos e imunológicos irreversíveis”, acrescenta Massoni. “Na fundição de bronze, para citar outro exemplo, a concentração média ultrapassa cinco vezes o valor-limite da OMS.”

O pesquisador aponta que há dificuldade de acesso às fundições, principalmente as de grande porte, para realizar qualquer análise ambiental, como a da qualidade do material particulado atmosférico presente no interior da indústria. “As empresas tem receio de eventuais fiscalizações”, diz. Para reduzir a exposição, Massoni recomenda o aprimoramento dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), além de seu uso constante e de modo adequado.
“Os trabalhadores usam máscaras, mas elas servem para proteger da poeira, não retendo devidamente o material particulado atmosférico”, alerta. “Mesmo quem trabalha longe da área de fundição, como pessoal de escritório, tem problemas relacionados à presença dos elementos potencialmente tóxicos no MPS, como indisposição estomacal”. Os funcionários, após a fundição, sofrem com sintomas de azia e, para amenizá-los, ingerem antiácidos.”

A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Paulo Massoni, defendida em março deste ano e orientada pelo professor Virgílio Franco do Nascimento Filho, diretor do CENA e responsável pelo laboratório de Instrumentação Nuclear (LIN) do Centro. Graduado em Física e Tecnologia Mecânica, com mestrado em Física Aplicada (Física Ambiental e Fenômenos de Transporte), Paulo Rogério Massoni coordena os cursos de Engenharia Mecânica, Mecatrônica e de Produção da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara (interior de São Paulo).


Fonte: Agência USP de Notícias, 29/10/09