quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Programa busca levantar dados sobre incêndios para criar política nacional de segurança

Todo problema público precisa ser investigado e conhecido a fundo para que os órgãos competentes elaborem soluções viáveis e eficientes. A necessidade de maior atenção à questão dos incêndios no país levou o Ministério da Ciência e Tecnologia a encomendar um projeto especialmente para analisar e investigar o assunto, sob aspectos quantitativos e qualitativos. Assim nasceu, em 2005, o Brasil Sem Chamas, inspirado no programa America Burning, que na década de 70 apurou os aspectos relativos a incêndios nos EUA. Além da USP e do IPT, fazem parte do Brasil Sem Chamas entidades como a Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares (Ligabom), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a Secretaria Nacional de Segurança Pública, a Secretaria Nacional de Defesa Civil, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), a Federação Nacional das Seguradoras (Fenseg), dentre outras.
Apesar de terem sido registrados quase 170 mil incêndios em 2008, apenas 12% deles tiveram suas causas identificadas. A falta de estatísticas mais detalhadas e de apuração são lacunas que o projeto identificou e para as quais deverá propor soluções, por meio de um conjunto de informações, diagnósticos e avaliações. Segundo José Carlos Tomina, coordenador do programa e engenheiro civil do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o trabalho contribuirá para a formulação de um programa nacional de ações integradas para a área de segurança contra incêndios.
Além das informações estatísticas, o trabalho também aborda questões mercadológicas (como competitividade e demanda), qualificação profissional e regulamentação de produtos e serviços. A análise do mercado de segurança contra incêndios, segundo Tomina, é importante para estimular o crescimento da produção da indústria brasileira. “Diversos materiais e equipamentos utilizados na prevenção, detecção e combate de incêndios no Brasil hoje são importados, mas o país tem plenas condições de produzi-los, desde que haja incentivo e regulamentação para especificar e controlar o uso de tais produtos”, explica o engenheiro.
Tomina afirma que é no quesito de formação e qualificação profissional que a USP deve exercer sua importância. Para ele, faltam profissionais especializados na área de segurança contra incêndios, principalmente porque o assunto é tratado de maneira superficial nos cursos de graduação tradicionais.
Diante dessa constatação, o professor Orestes Gonçalves, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli, está estruturando a proposta de um Programa de Competência Profissional em Engenharia de Sistemas de Segurança Contra Incêndios (PCP-SCI). Trata-se de um programa de educação continuada, que tem por objetivo capacitar, qualificar e certificar profissionais já atuantes, sobretudo engenheiros, arquitetos e técnicos de nível superior. O programa se divide em três etapas: um curso de capacitação profissional, uma prova de qualificação e um programa de certificação.
Segundo Gonçalves, o meio acadêmico nacional ainda não tem demanda suficiente para um curso de graduação em engenharia especializado em segurança contra incêndios, como acontece nos Estados Unidos. No entanto, defende que a área deve ser contemplada dentro da grade curricular dos cursos de engenharia e de arquitetura. José Carlos Tomina concorda com o professor e exemplifica: “quando o estudante de engenharia civil aprender a dimensionar estruturas de concreto ou de metal, deverá também adequá-las a situações de incêndio”.
Dentro da área de segurança ao fogo, a engenharia desenvolve a chamada “proteção ativa”, enquanto a “passiva” fica a cargo da arquitetura. A primeira se refere a estruturas prediais acionadas exclusivamente em ocasião de incêndio, como alarmes e equipamentos hidráulicos. Já a proteção passiva consiste em elementos incorporados à construção que, além de sua função usual, exercem também papel de detenção do fogo (paredes e portas corta-fogo, saídas de emergência, materiais para acabamento e revestimento).


Fonte: USP
Saiba mais: Palestra , Corpo de Bombeiros , NR 23