segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Máquina papa-lâmpadas: o princípio da reciclagem para lâmpadas fluorescentes

Fabricadas à base de vapor de mercúrio, elemento altamente tóxico, as lâmpadas fluorescentes queimadas são objeto de permanente preocupação por parte das autoridades ambientais. Estima-se que mais de 100 milhões de lâmpadas fluorescentes sejam consumidas anualmente no Brasil. A maior parte ainda é descartada em lixões, aterros sanitários ou em terrenos baldios, sem qualquer tipo de tratamento, contaminando solo, vegetação e água com metais pesados, como mercúrio e chumbo. Mas graças ao uso do papa-lâmpadas, possível por meio da parceria entre as empresas Escolha Ecológica Engenharia Ltda., da cidade de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, com a Naturalis Brasil, de São Paulo, esse cenário pode mudar. A máquina tritura e separa os resíduos tóxicos, tornando mais barato, eficiente e descomplicado o processo de descarte e descontaminação dessas lâmpadas. O processo foi desenvolvido com recursos do programa Apoio à Inovação Tecnológica, da FAPERJ.
Se por um lado as lâmpadas fluorescentes são um grande potencial poluidor, por outro, em caso de reciclagem, delas tudo se pode aproveitar. O mercúrio pode ser reempregado como matéria-prima para a indústria farmacêutica ou para a produção de termômetros. O vidro, uma vez triturado, é inteiramente reaproveitado como material para revestimento de pisos cerâmicos ou para indústria vidraceira. Ao licenciar a tecnologia da empresa americana Air Cycle Corporation, os sócios Thiago Santos Alves de Oliveira e Bruno Faria de Azevedo, engenheiros ambientais, passaram a contar com a tecnologia do "papa-lâmpadas", dispositivo móvel que coleta lâmpadas fluorescentes de tubo ou de bulbo e as descontamina no próprio local. A ideia dos dois engenheiros surgiu ainda nos tempos de faculdade de engenharia ambiental. "O descarte de lâmpadas fluorescentes e a liberação de seus resíduos tóxicos, principalmente o mercúrio era algo que nos preocupava. Resolvemos então usar um equipamento que simplificava o processo e barateava o custo", diz Bruno Azevedo.
Concebido para uso em larga escala, no Brasil, o equipamento foi adaptado para o uso sem restrições pelo tipo nem pelo número de lâmpadas. Tambor metálico de 200 litros, o equipamento tem capacidade para armazenar até 850 lâmpadas e um sistema de filtragem triplo: um filtro para o pó fosfórico, outro para as partículas de vidro e um terceiro para retenção de gases tóxicos. Na primeira etapa, as lâmpadas são trituradas no interior do tambor. Em seguida, o primeiro filtro captura o pó de fósforo e as micropartículas de vidro. O segundo filtro retém substâncias, como mercúrio, bário, cádmio, zinco e micropartículas alumínio, entre outros. Ali, o filtro de carvão ativado fica impregnado pelos vapores de mercúrio, que é passado para uma embalagem especial, hermeticamente fechada. Passados dois anos, o vapor de mercúrio é convertido à forma líquida para ser utilizado em indústrias farmacêuticas. Da coleta à separação e descontaminação dos elementos, tudo é feito pela empresa fluminense. De lá, os resíduos são enviados para a Naturalis Brasil, que tem licenças ambientais e já possui uma destilaria para o processamento do mercúrio. Ali, ficam estocados para novo uso industrial.
O equipamento é portátil e sua operação segue todos os requisitos de segurança. Os operadores usam equipamentos de proteção, como máscaras, óculos protetores, luvas e botas, especialmente para evitar qualquer contato com o vapor de mercúrio. Uma das vantagens do sistema é que ele não tem limite mínimo de lâmpadas: como o tubo da máquina é removível, ela pode processar apenas uma lâmpada, e ainda armazenar, em cada um de seus tambores, entre 850 e 1.000 lâmpadas, dependendo do tamanho.
Entre os clientes que contrataram os serviços de descontaminação da Escolha Ecológica, estão empresas de grande porte, como Volkswagen, Peugeot e Votorantim, todas empresas do sul fluminense, além de prefeituras e órgãos públicos. "Estimamos que a Escolha Ecológica já descontaminou mais de 150 mil unidades de lâmpadas fluorescentes. Nosso próximo passo é a obtenção de todas as licenças ambientais, de modo a eliminar a necessidade do envio dos resíduos gerados no processo para São Paulo", fala Bruno.
Para quem não sabe, uma simples lâmpada fluorescente possui cerca de 40 elementos químicos, com diferentes graus de toxicidade. Entre eles, estão presentes resíduos de mercúrio e chumbo que excedem os limites toleráveis pelo organismo humano. Como exemplo, sabe-se que, em caso de vazamento, o mercúrio contido em apenas uma delas é o suficiente para poluir cerca de 20 mil litros de água. Esta água, se ingerida, pode causar doenças como anemia, paralisia e câncer, afetando também fígado, rins e pulmões.
Segundo o engenheiro, uma das vantagens da empresa é prestar o serviço no local, à vista de todos, independentemente da quantidade, tamanho e diâmetro da lâmpada. "Outra vantagem é a redução de custos. As empresas que operam no mesmo ramo, coletam a lâmpada inteira, transportando, assim, um resíduo perigoso, e trabalham com roteiros de coleta, fazendo com que as empresas tenham, elas próprias, que manipular e acondicionar adequadamente as lâmpadas. Além disto, cobram fretes e preços diferenciados por tamanho de lâmpada, pois precisam de espaço nos caminhões que transportam a lâmpada inteira", compara Bruno.
"Nossa empresa desenvolve um trabalho socioambiental importante, também orientando a população, especialmente os estudantes das escolas públicas, sobre os procedimentos adequados de eliminação de produtos contendo resíduos tóxicos, e alertando sobre os perigos do descarte inadequado de lâmpadas fluorescentes. Em palestras e em demonstrações em escolas públicas, associações de moradores e eventos, Bruno Azevedo e Thiago de Oliveira explicam o funcionamento do papa-lâmpadas. "Acreditamos que a importância de nosso trabalho é imensa, pois tentamos convencer empresas, prefeituras e a população em geral a dar o destino correto para resíduos que, de outra forma, vão para os lixões, contaminando o meio ambiente e fazendo mal à saúde", afirma Bruno Azevedo. Quem quiser conhecer mais sobre o projeto, veja o site http://www.escolhaecologica.com.br


Fonte: FAPERJ