quarta-feira, 6 de março de 2013

Bombeiros podem responder por homicídio culposo, se polícia comprovar atraso em atendimento a incêndio no Leblon

O incêndio de domingo no Edifício Tanger, na Rua General Venâncio Flores, no Leblon, que causou a morte do desembargador do Tribunal Regional do Trabalho Ricardo Damião Areosa, de 57 anos, e de sua mulher, Cristiane Teixeira Pinto, de 33 no domingo (03), não deixou apenas um rastro de cinzas. A tragédia abre a discussão sobre os motivos que levaram ao fracasso do combate ao fogo, como a demora na chegada dos bombeiros, a falta de água num hidrante e, o pior, a inexistência de uma escada Magirus no quartel da Gávea, o primeiro a chegar. Segundo a própria assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros, o Rio só tem escadas e plataformas mecânicas em três batalhões da capital e em quatro do interior, de um total de 28 grupamentos e 52 destacamentos da corporação em todo o estado.

Os bombeiros que participaram do combate ao incêndio que matou um casal, no último domingo, no Leblon, podem responder por homicídio culposo, caso a polícia comprove que houve demora no atendimento. A informação é do delegado Waldeck Monteiro, da 14ª DP, onde já começaram a ser ouvidos vizinhos do apartamento destruído pelas chamas, na Rua General Venâncio Flores. Segundo Waldeck, foram requisitadas imagens de câmeras de segurança de prédios próximos ao edifício Tanger, de onde o desembargador Ricardo Areosa e a mulher dele, Cristiane Teixeira Pinto, se jogaram pela janela, após terem sido acuados pelo fogo.
O horário em que os bombeiros foram acionados e o que chegaram ao local ainda é um mistério. A corporação afirma que foi informada do incêndio às 23h24m e que chegou ao prédio seis minutos depois. Moradores, no entanto, garantem ter pedido socorro antes. O estudante Ricardo Birbieri, por exemplo, ligou para o 193, número de emergência dos bombeiros, às 23h20m, como mostrou O GLOBO hoje. Para comprovar o horário, Ricardo exibiu a tela do seu celular, onde ficaram registradas as chamadas realizadas. Segundo ele, a atendente disse que já havia sido informada do incêndio. A polícia vai convocar Ricardo para prestar depoimento, na tentativa de desvendar o disse-me-disse de horários
Uma equipe do GLOBO conseguiu ver, através das câmeras de segurança de um prédio próximo ao Tanger, que a primeira equipe de bombeiros, do quartel da Gávea, chegou de fato ao local às 23h31. Os veículos, no entanto, não tinham escada Magirus e tiveram que esperar o deslocamento de um caminhão com o equipamento do quartel de Copacabana. O comandante do quartel, Alex Vander, assegura que a equipe dele chegou às 23h45m, mas moradores dizem que ela só estacionou na porta do prédio depois de meia-noite, quando o casal já havia se jogado.
O apartamento destruído ainda chama a atenção de quem passa pela Rua General Venâncio Flores. Enquanto pedestres param para comentar a tragédia, síndicos de prédios vizinhos se preocupam com a segurança. A sinagoga que fica diante do Tanger chamou a empresa Hidrocenter, especializada em implantação e manutenção de sistemas anti-incêndio, para verificar suas instalações. A representante da empresa, Márcia Martins, disse que o trabalho tem aumentado desde o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria.

— Eu costumava fazer quatro visitas por dia, hoje são dez. Desde a tragédia no Sul as pessoas estão mais atentas.

Fonte: O Globo