domingo, 24 de março de 2013

Consumo moderado de chocolate pode trazer benefícios à saúde

Os cientistas dão a parte boa da notícia: o chocolate, essa delícia unânime, tem inúmeros benefícios para o organismo, como baixar a pressão arterial, melhorar a dilatação das artérias e apresentar poderes antioxidantes, graças aos flavonoides que contém. Os médicos contam a parte ruim: é preciso, apesar de tudo, comer com moderação. Mas abrem uma única exceção, na Páscoa, quando permitem abusar (e se lambuzar) da guloseima protagonista do dia.

- Os benefícios do chocolate têm sido comprovados em pesquisas com ingestão de pequenas porções de chocolate com alto teor de cacau, o que equivale a até 20 gramas por dia. Mas, como a Páscoa acontece uma única vez por ano, sugiro que os adoradores do chocolate comam sem culpa, e que o prazer fale mais alto na escolha do chocolate - recomenda o cardiologista Claudio Domenico. Nos outros dias do ano, quando a data não dá desculpas para exceções, a escolha do chocolate deve ser feita de acordo com suas propriedades.

- O chocolate amargo é infinitamente melhor. Quanto mais amargo, mais flavonoides e menos gorduras saturadas - garante a nutricionista Ana Beatriz Rique, da Clínica Ivo Pitanguy e representante oficial no Brasil da Aoda (American Overseas Dietetic Association), afiliada internacional da ADA (American Dietetic Asssociation). - Mas o máximo que recomendo é de 80% de cacau, se não, chega a ficar salgado. E contraindico o diet, que é exclusivamente para os diabéticos.

Os flavonoides, substâncias derivadas dos polifenóis, estão mais presentes no chocolate amargo porque este tem maior concentração de cacau. Para fazer bem à saúde do coração, o chocolate deve ser no mínimo 70% amargo. Segundo Claudio Domenico, o cacau melhora a dilatação das artérias, contribui para o perfil lipídico e ajuda a reduzir a pressão arterial. O neurocirurgião coordenador do Serviço de Neurocirurgia da Rede D'Or Eduardo Barreto complementa:

- Os flavonoides têm ação anti-inflamatória, inibem a coagulação, aumentam o HDL (colesterol bom) e diminuem o LDL (colesterol ruim).

O cardiologista Carlos Scherr, autor do livro "Redução do risco cardiovascular" (GEN), com uma tabela de composição do colesterol dos alimentos, também faz a sua recomendação:

- Há vários estudos que comprovam que o chocolate amargo ajuda a diminuir o colesterol. Mas é no máximo uma tirinha por dia.

Todas essas propriedades ajudariam a prevenir as doenças cardiovasculares. Mas Domenico alerta:

- Os estudos são promissores, mas ainda são muito variados e em número insuficiente para que possamos recomendar o uso do chocolate como terapia anti-hipertensiva.


Ana Beatriz Rique também tira o açúcar da sua recomendação:
- Há milhares de outros alimentos que fazem bem e que contêm flavonoides, como a cebola roxa, o suco de uva, a jabuticaba. Ninguém vai comer um quadrado de chocolate pensando na quantidade de flavonoides que ele contém. 

A nutricionista diz ainda que quem quiser somar o quadradinho de chocolate amargo ao seu dia a dia deve retirar algo que já fazia parte da dieta.

- Em 20 gramas de chocolate amargo há 120 calorias. Em dez dias, serão 1.200 calorias. Em 70 dias, será um quilo - garante Bia Rique, que é chefe do serviço de Nutrição da 38ª Enfermaria da Santa Casa. - E, ao se ganhar peso, aumenta-se o risco de doenças cardiovasculares.

Se moderação é a palavra-chave, consumir o chocolate controlando a quantidade também é importante na promoção do bem-estar. A substância chamada feniletilamina, presente na composição da guloseima amarga, estimula produção de serotonina, atuando assim numa região do cérebro relacionada às emoções.

- A feniletilamina é um bom estimulante, mas só se a pessoa consumir uma quantidade moderada de chocolate. O chocolate tem também uma concentração alta de carboidratos que facilita a entrada de triptofano, aumentando a serotonina que estimula o cérebro. Isso já é suficiente para melhorar a atividade da parte frontal do cérebro, aquela que está envolvida na tomada de decisões - explica Eduardo Barreto.Guloseima em jejum gera compulsão

Apesar de todas as doces defesas a favor do chocolate, Bia Rique não dá colher de chá e explica ainda que a guloseima pode gerar compulsão em muitas pessoas:

- O ideal é que o chocolate seja consumido depois de um almoço à base de muitas fibras, que vão desacelerar a absorção de glicose. Se for consumido em jejum, a glicose do organismo estará baixa, e a pessoa terá o chamado rebote glicêmico: a glicose vai subir rapidamente, o organismo vai produzir muita insulina, a glicose chegará depressa demais à célula e ficará de novo baixa no organismo. E a pessoa vai querer mais e mais doce.

Fonte: O Globo