Como 40% dos casais que fazem tratamentos de infertilidade, a americana Marybeth Scheidts, 36 anos, e o marido, David Levy, 41, estavam prestes a entrar em mais um ano de tentativas de engravidar, com medicamentos e técnicas de medicina reprodutiva. Faltava pouco para desistirem. Foi então que o médico do casal, o especialista em reprodução humana Michael Glassner, da Filadélfia, nos Estados Unidos, propôs algo jamais tentado: submeter os embriões gerados no laboratório com as células reprodutivas de ambos ao mais novo e amplo teste de sequenciamento genético existente. “O objetivo era selecionar o embrião mais saudável e com maiores chances de levar a uma gravidez”, disse Glassner à ISTOÉ. Deu certo. De 13 embriões, foram selecionados três e, desses, um foi escolhido para ser implantado no útero de Marybeth. Em maio, ela deu à luz Connor Levy. Outro casal americano que participou desse estudo aguarda o nascimento do filho para o próximo mês. O anúncio dos nascimentos foi feito na última semana, na Inglaterra, durante o encontro da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.
O exame usado pelos pesquisadores, o NGS, sigla do nome em inglês Next Generation Sequencing, permite checar anormalidades no número de cromossomos (estruturas que guardam os genes), identificando partes que faltam ou sobram. Também tem potencial para apontar, simultaneamente, mutações em genes e variações em uma região do código genético que é herdada exclusivamente da mãe, chamada de DNA mitocondrial – no caso de Connor e da outra criança, foram feitas apenas análises dos cromossomos. “Ele propicia a investigação de 300 genes associados a 700 doenças. O teste irá reduzir o número de crianças nascidas com severas anormalidades”, disse à ISTOÉ o cientista Dagan Wells, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, responsável pelas análises genéticas. Hoje, o teste mais usado – o CGH – rastreia cerca de 100 enfermidades.
O novo teste inaugura a possibilidade de ler todo o DNA dos embriões antes que sejam implantados a um custo mais baixo e sem a necessidade de exames específicos para cada doença. “Evidentemente isso deve ser precedido por sessões de aconselhamento genético do casal para planejar o rastreamento e evitar exageros”, diz o médico geneticista Ciro Martinhago, doutor em medicina reprodutiva e diretor do laboratório de análises genéticas Chromossome, em São Paulo.
No que se refere ao sucesso dos tratamentos de infertilidade, os pesquisadores comprovaram a eficiência da nova metodologia. “O uso de testes mais precisos para selecionar os melhores embriões aumenta a taxa de nascimentos em cerca de 50% e reduz o índice de abortos na mesma proporção”, comemora Glassner. Outro avanço destacado por ele é o fato de ter conseguido a gravidez com um único embrião, prevenindo as gestações múltiplas resultantes da transferência de dois ou mais embriões. Também diminui o número de tentativas.
Haverá ainda economia. O CGH, por exemplo, menos abrangente, custa cerca de R$ 1,8 mil por embrião. “O NGS deve custar um pouco menos da metade”, diz o geneticista Martinhago. A partir de setembro, o brasileiro oferecerá o recurso em sua clínica. Outro exame que estará disponível no Brasil este ano é o SNP microarray. Ele procura alterações em cerca de um milhão de regiões do DNA, enquanto o CGH consegue ler dez mil regiões. “Também indica se os cromossomos duplicados vêm do pai ou da mãe. Dependendo da origem, podem causar diferentes síndromes”, diz o geneticista. Hoje, as amostras são analisadas fora do País, o que eleva o preço e restringe o acesso.
Fonte: IstoÉ