segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Lodo de esgoto: um aliado da agricultura

 À esquerda, milho tratado com substrato comercial:   
   nítida diferença do adubado com compostagem 
Imagine plantas crescendo vigorosas e mais rapidamente! Agora pense que, em vez de fertilizante comum, elas foram cultivadas em terra adubada com lodo de esgoto. Pois essa é exatamente a proposta da pesquisadora Fabiana Soares dos Santos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que, com recursos do editalPrioridade Rio, da FAPERJ, está testando o reaproveitamento do material resultante das usinas de tratamento. Com elevado teor de matéria orgânica, o lodo do esgoto doméstico pode transformar-se em importante aliado da agricultura, um fertilizante mais eficiente do que o substrato comercial, hoje empregado. E pode contribuir para o desenvolvimento de certas culturas, como a do milho.
"O material para uso agrícola precisa seguir os critérios da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em que devem ser observados os níveis máximos permitidos de contaminação orgânica, inorgânica (por metais pesados) e biológicos (coliformes fecais, ovos de helmintos, etc.). Por isso trabalhamos com esgoto doméstico, em que não há rejeitos industriais", explica a pesquisadora.

A partir de uma parceria entre a universidade, a prefeitura de Volta Redonda e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto do município, a equipe está avaliando o reaproveitamento desse lodo. Numa primeira etapa, o projeto procede à caracterização do material, por meio de análises químicas, microbiológicas e parasitológicas, comparando com os teores máximos admitidos na legislação para uso agrícola. "Uma vez essa análise feita, misturamos a esse lodo restos de folhas, galhos e outros resíduos do gênero, resultantes da limpeza de ruas. A partir daí, o material é submetido a um processo de compostagem, e analisamos a fertilidade do composto gerado quanto ao seu potencial como substrato para produção de mudas", explica Fabiana.

Pelo que pôde observar até agora, os resultados são mais do que animadores. "Os níveis de coliformes fecais, salmonelas e ovos viáveis de helmintos puderam ser reduzidos durante a compostagem", afirma a pesquisadora. Para quem não sabe, a compostagem é um processo biológico em que microrganismos transformam matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, em um material semelhante à terra, que pode ser utilizado como adubo. "Trabalhando-se com controle de umidade e temperaturas de até 75ºC, criam-se condições adequadas para reduzir, e no caso das salmonelas, eliminar, esses contaminantes biológicos a taxas aceitáveis pela legislação", explica. Segundo a pesquisadora, tudo isso é feito no espaço da própria estação de tratamento. O processo leva uma média de três a quatro meses, dependendo da temperatura ambiente. Nesse meio tempo, o monitoramento dos resíduos, feito em novas análises, serve para verificar a redução dos contaminantes. "No verão, a compostagem costuma ser mais acelerada."
O fertilizante resultante conta com húmus e nutrientes para plantas, capazes de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. "Nessa fase, nosso objetivo foi avaliar o desenvolvimento do milho e da aroeira, espécie vegetal bastante empregada em projetos de reflorestamento. Para responder se o composto teria igual eficácia a dos fertilizantes atualmente comercializados, separamos as plantas em grupos, que foram tratados com percentuais diferentes de composto ou apenas receberam substrato comercial."

As diferentes concentrações avaliadas foram: 100% de composto puro; 75% de composto + 25% de substrato comercial; 50% de composto e 50% de substrato comercial; 25% de composto + 75% de substrato comercial; 100% de substrato comercial. "Desses grupos, foi visível a diferença das plantas tratadas com composto puro ou em percentuais de até 50%. Isso significa que a adição do composto resultou em um significativo rendimento para o desenvolvimento da planta."

Os próximos testes visam à produção de mudas de espécies agrícolas comerciais, como o pinhão manso, empregado para produzir biodiesel, e o feijão. "Nossa pesquisa atende a crescente demanda por alternativas de uso do lodo gerado nas estações de tratamento de esgoto do município e analisa a possibilidade de se produzir um fertilizante de boa qualidade, praticamente a custo zero. Sem dúvida, isso contribuirá com a produção de mudas de espécies nativas e comerciais."

Fonte: FAPERJ