quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Armazenamento é 'vilão' da larva no chocolate, dizem Anvisa e biólogo

Ao ganhar um bombom do chefe no último dia 16, a assistente administrativa Miliane de Freitas encontrou uma surpresa desagradável. Em meio ao recheio, algumas larvas passeavam pelo produto que, segundo a leitora, estava lacrado. "Estava vedado direitinho, não tinha sinal de que tinha sido aberto", comenta sobre a embalagem.

Esse é um dos vários casos que são relatados semanalmente de vários lugares do Brasil sobre a presença de bichos em chocolate industrializado. Tanto o cacau quanto castanhas e cereais adicionados ao produto são ambientes que, durante o transporte e armazenamento, favorecem o aparecimento desses organismos, segundo dizem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e especialistas.

As larvas não fazem mal à saúde - mas será difícil encontrar um consumidor impassível ao encontrar esse complemento inesperado dentro do doce. Os fabricantes confirmam as informações, mas dizem que a responsabilidade é dos lojistas na hora de guardar os produtos. Também afirmam que estão atentos ao problema e que, de efetivo nesses casos, fazem ações para alertar os comerciantes sobre as melhores práticas de estocagem.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária afirma que, no "caso de produtos com cereais, como barras de cereais, biscoitos e alguns tipos de bombons e chocolates, biscoitos, pesquisas já realizadas apontaram que os vestígios de infestação geralmente são característicos de insetos da Ordem Lepidóptera [a que pertencem as borboletas e mariposas], que em condições favoráveis desenvolvem-se em cereais, principalmente durante as etapas de transporte e armazenamento do produto".

O biólogo Fernando Noll, do Departamento de Zoologia e Botânica da Unesp, explica que, "embora seja possível que vários tipos de insetos possam atacar sobretudo o chocolate, o mais comum é um pequeno besouro, ou coleóptero da família Anobiidae, chamadoStegobium paniceum (L.)". O professor explica que "a infestação pode ocorrer tanto pelo chocolate como pelas nozes [presentes em recheios], por exemplo."

"Pelos relatos de vigilância sanitária de outros países que pude acompanhar, é informado que nenhuma embalagem é totalmente segura contra a infestação. Assim, o problema pode ser tanto a matéria prima já conter ovos desse besouro (que são muito pequenos) como o local de estocagem já estar infestado", esclarece o biólogo. "A única maneira de prevenção é uma busca constante nos locais por esses besouros adultos e sua eliminação, posto que a aplicação de qualquer inseticida diretamente comprometeria o produto."
A Anvisa esclarece que "as larvas de Lepidóptera não são considerados vetores mecânicos", ou seja, não são capazes de servir de "transporte" para microorganismos causadores de doenças. "Logo, a presença de larvas não torna o produto impróprio para o consumo", diz a agência em nota.

No entanto, a Anvisa explica que, "ao ser constatada a presença de larvas de Lepidópteras em alimentos, a vigilância sanitária pode adotar medidas como a interdição do produto, para que possa avaliar as boas práticas de fabricação dos estabelecimentos produtores e o atendimento às boas práticas de armazenamento nos pontos de venda e distribuição".

"Com base nos resultados de inspeção, a vigilância pode solicitar que a empresa adote medidas para eliminar as irregularidades constatadas e também proibir a comercialização do alimento", diz a Anvisa.

Sobre o besouro da família Anobiidae, o biólogo Fernando Noll afirma que não encontrou relatos sobre possíveis riscos ao consumidor em caso de ingestão acidental das larvas. "É difícil dizer, mas não encontrei relatos sobre a toxicidade, de modo que, em princípio, não fazem mal a saúde", diz.

Fonte: G1