sábado, 12 de outubro de 2013

USP, Unesp e Unicamp disponibilizam produção científica na internet

A produção científica das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp) poderá ser encontrada e acessada livremente em breve em um único portal na internet. Trata-se do Repositório da Produção Científica do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas, lançado durante a sessão de abertura da 4ª Conferência Luso-Brasileira de Acesso Aberto (Confoa), dia 6 de outubro.

Criado por iniciativa e com apoio da FAPESP, alguns dos objetivos do portal são reunir, preservar e proporcionar acesso aberto, público e integrado à produção científica dos pesquisadores das três universidades estaduais paulistas, que são as que mais publicam artigos científicos no país, de acordo com a última edição do SIR World Report, divulgada em julho pela Scimago Lab.

O portal reunirá teses, dissertações, artigos, livros, resumos e trabalhos completos apresentados em reuniões e congressos científicos, entre outras publicações disponibilizadas pelas três instituições nos repositórios de dados na internet que começaram a desenvolver nos últimos anos.

“A USP começou a criar em 2009 um sistema de gestão de sua produção científica em meio eletrônico – que envolve acesso ao conteúdo, preservação digital e, principalmente, o controle dos direitos autorais – e, no final de 2012, lançou sua Biblioteca Digital da Produção Intelectual”, disse Sueli Mara Soares Pinto Ferreira, diretora do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP, à Agência FAPESP.

“Uma vez que fomos a primeira das três universidades estaduais paulistas a iniciar esse processo, a FAPESP começou em 2012 a conversar conosco sobre a possibilidade de desenvolvermos uma estratégia para possibilitar que, além da USP, a Unesp e a Unicamp também tivessem seus repositórios e para criarmos um portal do Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas] que reunisse os repositórios das três instituições”, contou Ferreira.

A metodologia utilizada na construção da Biblioteca Digital da Produção Intelectual da USP foi seguida pela Unesp para desenvolver seu Repositório Institucional , lançado em fevereiro.

Por sua vez, a Unicamp também começou a desenvolver a sua Biblioteca Digital da Produção Científica e Intelectual, que atualmente está incubada no Sibi da USP e deve migrar, em breve, para o servidor da universidade campineira.

Agora, com os repositórios das três universidades paulistas prontos para operar, a ideia é integrá-los pouco a pouco no portal do Cruesp que conta com uma ferramenta de busca já utilizada pela USP para integrar as bibliotecas digitais de suas unidades.

“A ferramenta de busca do sistema se conecta todos os dias com os repositórios das três universidades, extrai os dados armazenados, desduplica [elimina os duplicados] e os insere na base do portal do Cruesp para que possam ser acessados pelos usuários”, afirmou Anderson de Santana, gestor de acervos do Sibi da USP e um dos pesquisadores participantes do projeto.
Por enquanto, o portal do Cruesp reúne cerca de 56 mil artigos científicos, publicados entre 2008 e 2012 em revistas indexadas na Web of Science. De acordo com os coordenadores do projeto, a meta é publicar artigos científicos também incluídos em outros indexadores científicos, como o Scopus, além de outros tipos de publicações, como livros, resumos e trabalhos completos apresentados em reuniões e congressos científicos.

Individualmente, as bibliotecas digitais das três universidades já vêm trabalhando com outros conteúdos, que não apenas artigos científicos.

A biblioteca digital da USP, por exemplo, já dispõe de vídeos e dá acesso ao portal de teses da universidade – o maior do país, que será integrado ao portal do Cruesp. O repositório da Unesp também possui, além de artigos, recursos educacionais, livros e teses, entre outros materiais.

“Esses cerca de 56 mil artigos já incluídos no portal do Cruesp representam apenas o embrião do projeto e uma infraestrutura básica para iniciar os trabalhos”, disse Ferreira. “A ideia é que as bibliotecas digitais das três universidades comecem a inserir, a partir de agora, cada vez mais materiais no portal.”

Desse total de artigos, 29 mil foram publicados por pesquisadores da USP, 25 mil pela Unesp e outros 2 mil pela Unicamp – que ainda possui poucos artigos no portal porque iniciou mais recentemente a gestão de sua produção científica na internet.

Muitos desses trabalhos foram escritos em coautoria – reunindo pesquisadores de mais de uma das três instituições – e são registrados e armazenados no portal do Cruesp como documentos únicos.

“Os artigos que estão armazenados nos repositórios das três universidades só aparecem uma vez no portal, porque não faria sentido registrá-los três vezes”, explicou Ferreira.

“Se fôssemos somar o conteúdo dos três repositórios, daria mais de 60 mil documentos. Mas, 56 mil documentos únicos já é um número muito expressivo e tende a crescer muito”, avaliou.
Do total de 56 mil artigos já armazenados no portal do Cruesp, 70% estão disponíveis em acesso aberto e os outros 30% ainda são de acesso restrito às universidades – que são assinantes das respectivas revistas nas quais os trabalhos foram publicados – ou estão embargados pelas editoras para publicação em acesso aberto.

De acordo com os coordenadores do projeto, uma das vantagens da integração dos repositórios das três universidades estaduais paulistas no portal do Cruesp é facilitar o acesso e a busca de informação pelo usuário, que não precisará pesquisar nas bases de dados individuais das três universidades para encontrar um determinado artigo científico.

Além disso, o portal possibilitará gerar outras informações que não poderiam ser encontradas facilmente nos repositórios individuais das universidades, como os trabalhos feitos em colaboração.

O principal benefício do portal, no entanto, será instituir uma política de publicação de trabalhos científicos em acesso aberto no Estado de São Paulo, ressaltaram os participantes de uma mesa-redonda sobre políticas públicas de acesso aberto realizada no dia 7 de outubro, que integrou a programação da 4ª Confoa.

“O lançamento do Repositório da Produção Científica do Cruesp é essencial para o funcionamento de uma política de publicação de resultados de pesquisas científicas financiadas com recursos públicos em acesso aberto, como a que a FAPESP está instituindo, porque garante o autoarquivo de artigos publicados por pesquisadores da USP, Unicamp e Unesp nos repositórios dessas instituições, vencido o período de embargo estabelecido pelas revistas científicas nas quais os trabalhos foram publicados”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP durante o evento.

De acordo com Brito Cruz, inicialmente a FAPESP exigirá dos pesquisadores que tiveram seus trabalhos financiados pela Fundação que, após publicarem os resultados de pesquisas apoiadas nas revistas científicas que escolheram, disponibilizem o artigo em um repositório (pessoal ou institucional) de acesso aberto o mais rápido possível após o término do período de embargo (que varia de uma publicação científica para outra).

“Estamos implantando a primeira fase da política de publicação de resultados de trabalhos científicos apoiados pela FAPESP, que é relativamente suave, porque diz ao pesquisador que ele pode publicar seus trabalhos onde quiser, mas em um prazo mais breve possível deve disponibilizá-los em um repositório de acesso aberto”, avaliou.

Brito Cruz ressalvou que esse trabalho de disponibilização dos artigos científicos em repositórios de acesso aberto deve ser feito pelas próprias universidades às quais os pesquisadores estão vinculados, de modo que eles não tenham que interromper suas atividades de pesquisa por esse motivo.

“Isso tem que ser feito pelas instituições porque, se criarmos mais esse ônus para o tempo do pesquisador, ele terá menos tempo para se dedicar à pesquisa”, ponderou.

Segundo Brito Cruz, além do acesso aberto a artigos científicos de pesquisas financiadas pela FAPESP, a Fundação analisa formas de implementar o acesso aberto aos dados que geraram os resultados obtidos nos estudos para que toda a comunidade científica possa utilizá-los, como já faz o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP).

Estabelecido pela FAPESP em 1999 para conhecer, mapear e analisar a biodiversidade paulista, o programa possui uma base de dados aberta – o Sinbiota –, abastecida continuamente de informações levantadas por pesquisadores que tiveram projetos financiados, como dados georreferenciados de coleta, descrição de espécies e mapas de localização, entre outras.
Fonte: FAPESP