quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Antibióticos: a importância do uso consciente


“Tomem cuidado, não tomem antibióticos”, ensinam as crianças de 13 anos aos pais e às mais novas nas escolas britânicas. Essa é a nova campanha nacional que vai ser lançada na Inglaterra, a partir do ano que vem. “O objetivo é que as crianças voltem para casa e contem aos pais o que elas aprenderam e assim repassem o conhecimento”, explicou, em nota, Donna Lecky, pesquisadora de saúde pública do governo do Reino Unido. Lá, o consumo desse tipo de remédio não pára de crescer.

Mas por que ser tão cauteloso quanto aos antibióticos? É simples. Ingeri-los sem necessidade faz com que as bactérias que vivem em harmonia em nosso organismo – como as da flora intestinal – sejam exterminadas. Em equilíbrio, elas não causam problemas à nossa saúde. Mas, quando o remédio é ingerido indiscriminadamente, uma parte dos micróbios morre e os sobreviventes, que não são sensíveis ao medicamento, se fortalecem e se impõem, podendo desencadear doenças. Mas não se desespere: o risco só existe quando o antibiótico é tomado sem necessidade com frequência.

Além de só medicar seu filho em casos de real necessidade, siga à risca os horários estipulados pelo médico. “Os especialistas levam em conta a vida média do antibiótico na corrente sanguínea. Se ele precisa ser tomado de oito em oito horas, é porque, após esse período, a quantidade de medicamento no organismo irá diminuir”, explica o pediatra Hamilton Robledo, do Hospital São Camilo (SP). Essa é a oportunidade perfeita de a bactéria criar mecanismos de defesa e superar a ação do antibiótico. Por isso, se ocorrer algum imprevisto e você atrasar uma das doses, não adie a seguinte. Por exemplo: o correto seria dar o antibiótico para a criança às 8 horas, 16 horas e 24 horas. Caso você atrase e dê a segunda dose às 17 horas, mantenha o horário das 24 horas. A mesma disciplina é importante no que se refere à duração do tratamento. Mesmo que os sintomas desapareçam antes, administre o antibiótico até o último dia indicado pelo pediatra. Só assim todas as bactérias serão exterminadas e a doença, curada.

Para evitar que as pessoas comprem antibióticos sem prescrição médica, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estipulou uma norma, em outubro de 2010: esse tipo de droga só pode ser vendida com receita. Uma das vias fica retida na farmácia e outra é entregue ao consumidor, com um carimbo que impede a reutilização do documento. De lá para cá, segundo a empresa IMS Health Brasil, que faz pesquisa para a indústria farmacêutica, a venda de antibióticos teve uma queda, passou de 94 para 92 milhões embalagens, mas a partir de 2011 só aumentou, passando de 105 milhões. Apesar desse aumento, os especialistas afirmam que a compra, agora, é muito mais controlada, já que tem o aval do médico. Desde abril deste ano, passou a ser obrigatório, também, que todas as drogarias disponham do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). Quando você comprar um antibiótico, precisará informar a idade, o sexo e o nome do paciente. “O sistema vai montar um banco de dados que pode ajudar a estabelecer, em longo prazo, estatísticas sobre o uso do remédio no Brasil”, esclarece Rafael Filiacci, coordenador do SNGPC da Anvisa.

É sempre bom lembrar: o procedimento de retenção de receitas vale para os antibióticos, mas não é por isso que você deve driblar o sistema e comprar, por conta própria, anti-inflamatórios de venda livre, na tentativa de contornar a crise. “Eles não combatem as bactérias e, portanto, não resolvem o problema. Ainda podem gerar desconforto gastrointestinal e alergia”, alerta Gerson Matsas, pediatra do Hospital Samaritano (SP). O remédio pode mascarar os sintomas e dificultar o diagnóstico da doença. O fato de a febre desaparecer, por exemplo, não significa que seu filho esteja curado.

Portanto, não se esqueça: ao notar qualquer desconforto da criança, o correto é procurar ajuda médica. O especialista fará uma avaliação clínica e só receitará o antibiótico se encontrar o foco infeccioso da bactéria. É claro que, em casos de emergência, você deve procurar o pronto-socorro. Mas sempre tente falar antes com o pediatra, que já conhece seu filho. “Ele poderá fazer um acompanhamento constante e reavaliar o paciente depois da consulta”, aconselha Matsas. Nada como poder ligar para o médico no dia seguinte e tirar suas dúvidas, não é mesmo?

(Crescer)