sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uerj: dentista coordena pesquisa para uso de materiais alternativos

Há cerca de quatro anos, o carioca Carlos Eduardo Sabrosa vem colocando o sorriso no rosto de gente que aparentava timidez, vivia sisuda e não se permitia o escancarar da boca diante da felicidade ou de uma situação engraçada. Gente que perdera um ou todos os dentes que tinha e, sem poder arcar com os custos de um implante, deixara de lado a vontade de explodir no riso.

Dentista especializado em reabilitação oral, Sabrosa coordena, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), um programa de pesquisa que visa a melhorar a saúde da boca da população com o uso de materiais alternativos e, consequentemente, muito mais baratos.

— Nossa grande alegria ao trabalhar com a saúde é tentar ajudar as pessoas. O sorriso é o cartão de visitas de todo mundo, e muita gente deixa de ter atendimento odontológico por conta do custo — diz Sabrosa.

Pioneiro, o projeto vem ganhando visibilidade internacional. Com apoio de duas das maiores empresas de materiais odontológicos do mundo, Sabrosa percorre mais de dez países por ano em palestras e seminários sobre seus estudos na Uerj — onde também é professor. Na próxima quarta-feira, ele embarca para os Estados Unidos, a Alemanha, o Egito e a Arábia Saudita para falar dos avanços que vem obtendo.

— Fazer a reconstrução de dentes, mesmo uma jaqueta, é muito caro. O que fomos descobrindo é que alguns materiais mais simples e baratos, que já eram usados na odontologia para outros fins, como a resina, se mostraram resistentes para um implante, por exemplo, com uma longevidade aceitável de pelo menos três anos de duração, no lugar da porcelana, que é caríssima — explica Sabrosa.

A diferença é evidente no bolso: enquanto um implante tradicional, feito de porcelana, custa em torno de R$ 3 mil nos consultórios particulares, o mesmo procedimento realizado com o que Sabrosa chama de “materiais alternativos” cai para R$ 150. Um novo dente talhado em um laboratório, com os materiais usuais, sem a mão de obra do dentista, não sai por menos de R$ 700. Já o dente de resina, por exemplo, tem um custo de fabricação de inacreditáveis R$ 15.

— Queremos expandir o estudo, para que ele extrapole a universidade e seja aplicado por unidades de atendimento públicas, por exemplo. Hoje, uma pessoa que precisa reconstruir um dente e recorre ao serviço público não encontra esse auxílio — diz o dentista.

Com consultório no Leblon, num dos centros comerciais mais nobres da cidade, Sabrosa vai duas vezes por semana à Uerj. Lá, além de dar aulas para os alunos de graduação do curso de odontologia, supervisiona o projeto com a ajuda do professor Ricardo Herzog Marchiori, além de fazer cirurgias em pacientes inscritos no estudo.

— É um projeto de extensão que está aberto ao público. Como é um estudo, existem critérios para a inclusão ou não de cada caso — explica. — Por conta do pouco fomento para a pesquisa (cerca de R$ 30 mil ao longo de três anos, proveniente de duas empresas internacionais privadas), não tenho como reconstruir hoje a boca inteira de alguém, mas já conseguimos colocar até três dentes. Vamos aumentando de acordo com nossa capacidade financeira também.

(O Globo)