domingo, 1 de junho de 2014

Dieta da mãe determina resposta genética do bebê

A alimentação da mãe antes da concepção pode afetar para sempre as funções genéticas da prole, segundo estudo publicado nesta terça-feira na revista ‘Nature Communications’.

Pesquisadores do Grupo Internacional de Nutrição MRC, baseados na Escola de Higiene & Medicina Tropical de Londres e na Unidade da MRC no Gâmbia, utilizou um “experimento da natureza” único na Gambia rural, onde a dependência da população em alimentos de cultivo próprio e um clima marcadamente sazonal impõem grande diferença de padrões alimentares para as pessoas entre as estações chuvosa e seca.

Através de um processo de seleção que envolveu mais de duas mil mulheres, os pesquisadores entraram em contato com mulheres grávidas que conceberam no pico da estação chuvosa (84 mulheres) e no pico da estação seca (83 mulheres). Ao medir as concentrações de nutrientes no sangue e, posteriormente, analisar amostras de sangue e do folículo de cabelo de seus filhos de 2 a 8 meses de idade, eles descobriram que a dieta da mãe antes da concepção teve um efeito significativo sobre as propriedades do DNA de seus filhos.

Enquanto os genes de uma criança são herdadas diretamente de seus pais, a forma como esses genes são expressos é controlada através de modificações epigenéticas no DNA. Tais modificações envolvem a marcação de regiões do gene com compostos químicos chamados grupos metilo e resultam no silenciamento dos genes. A adição destes compostos requer nutrientes essenciais, incluindo ácido fólico, vitaminas B2, B6 e B12, colina e metionina.

Experimentos em animais já mostraram que as influências ambientais antes da concepção podem levar a mudanças epigenéticas que afetam a prole. Um estudo de 2003 descobriu que a dieta de um rato fêmea pode mudar a cor da pelagem da prole, modificando permanentemente a metilação 1 no DNA. Mas até essa última pesquisa, financiada pelo Wellcome Trust e MRC, era desconhecido se esses efeitos também poderiam ocorrer em humanos.

— Nossos resultados mostram pela primeira vez que a nutrição e o bem-estar da mãe no momento da concepção podem mudar como os genes dos filhos serão interpretados a longo prazo, na vida toda — explica o autor do estudo Branwen Hennig.

Os pesquisadores descobriram que crianças de concepções estação chuvosa tiveram taxas consistentemente mais elevadas de grupos metilo presentes em todos os seis genes estudados, e que estes estavam ligados a vários níveis de nutrientes no sangue da mãe. Fortes associações foram encontrados com os dois compostos em particular (de homocisteína e cisteína), e o índice de massa corporal das mães tiveram influência adicional. No entanto, embora esses efeitos epigenéticos tenham sido observados, suas conseqüências funcionais permanecem desconhecidos.

(O Globo)