Os alunos mais vulneráveis aos efeitos negativos da depressão de seus professores eram aqueles que já estavam com dificuldades em matemática, o que sugere que as crianças com necessidade de melhorar tinham menos probabilidade de fazê-lo quando estavam em salas de aula com docentes deprimidos. Estudantes com desempenho ruim na mesma disciplina tinha maior evolução quando ensinados por educadores sem transtornos psiquiátricos.
A professora de língua portuguesa Elizabeth da Silveira sofreu com isso em 2012, quando tirou cinco meses de licença por depressão. Ela dava aulas no ensino fundamental de uma escola estadual em Nova Iguaçu. Segundo Elizabeth, o colégio não tinha inspetores nem funcionários suficientes para conter a indisciplina dos alunos.
— Era uma escola muito complicada: turmas muito cheias, faltava água sempre, e eu não podia liberar alunos mais cedo. Trabalhávamos em condições precárias. Comecei a me deprimir e não queria mais trabalhar. Era impossível dar aula. Já estava afetando bastante o conteúdo. Tinha medo de chegar ao portão da escola. Faltei uma semana direto. Vendo que estava em depressão, procurei um psiquiatra própria e entrei de licença. O governo não me ajudou em nada — diz ela.
Após a licença, ela mudou de escola. Segue com acompanhamento psiquiátrico e psicológico, mas diz que hoje se sente melhor:
— Tenho a mesma quantidade de alunos, mas consigo fazer um bom trabalho. Meus alunos hoje aprendem mais.
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), desde 2011 existe a Assessoria Técnica de Saúde e Bem-Estar para desenvolver ações com foco na melhoria das condições de trabalho, em três eixos: saúde no trabalho, segurança no trabalho e qualidade de vida no ambiente de trabalho. A secretaria diz também manter uma equipe de Saúde e Bem-Estar com 30 representantes lotados na sede e nas diretorias regionais, sendo composta por docentes e servidores com formação, na sua maioria, em Serviço Social e Psicologia.
Coordenadora do Sindicato de Profissionais da Educação do do Rio (Sepe-RJ), Beatriz Lugão diz que o número e apoio são insuficientes.
— Não é uma equipe de 30 pessoas que vai resolver esse problema numa rede de 70 mil professores. Já entramos no ano ouvindo que não vai ter merenda, verba para material e xerox. Tudo isso vai limando o dia a dia do magistério. Vai ter muita licença médica por causa disso esse ano. Antes era mais por doenças de esforço repetitivo e nas cordas vocais. Agora, foi ultrapassado por problemas psiquiátricos. — relata Beatriz.
Antoine Lousao, subsecretário de Gestão de Pessoas da Seeduc, diz que o número de profissionais é o permitido pela legislação.
— O projeto de lei que criou esse programa previa pouco mais de 40 profissionais com esse tipo de especialização. Em cada regional, que concentra cerca de 80 escolas, há um psicólogo e um assistente social. Eles fazem projetos nas unidades escolares para dar maior capilaridade. Temos programas preventivos sobre saúde mental, com vídeos institucionais e orientações da rede com um manual de cidadania — explica Lousao.
Segundo os pesquisadores Leigh McLean e Carol Connor, responsáveis pelo estudo publicado na “Child Development, “ensinar é uma das profissões mais estressantes”.
— Uma das consequências preocupantes de estresse ocupacional é que ele pode contribuir para taxas elevadas de sintomas de depressão. Nosso estudo revela algumas das implicações negativas das taxas mais elevadas de sintomas depressivos que afetam também os alunos desses professores. O estudo destaca a necessidade de sistemas de apoio à saúde mental para os educadores, não só para benefício deles, mas também dos estudantes— observa McLean.
Os autores da pesquisa sugerem que as escolas envolvam profissionais de saúde mental para ajudar os professores a lidar com a depressão. Eles também dizem que seriam benéficos programas de desenvolvimento profissional que ajudassem os docentes a aprender como lidar com situações adversas e estressantes na sala de aula, além de fornecer plano de saúde que cubra apoio à saúde mental.
O professor de língua portuguesa Cláudio Menezes Maia precisou tirar licença médica durante dois meses no ano passado. Ele entrou em depressão depois de uma série de episódios traumáticos. O primeiro foi quando sua mulher sofreu um aborto espontâneo. Depois, seu melhor amigo foi assassinado num ônibus quando voltava para casa da mesma escola em que dava aulas de educação física.
— Também tivemos um aluno que se suicidou porque era gay, a família era evangélica e não aceitava. Quando repensei a violência, comecei a cair mesmo. A fome, a precariedade de moradia, a falta de família violavam os direitos deles. E eu não tinha condições de fazer nada. Em determinados momentos, olhava que estávamos formando novos bandidos, como o que matou o meu amigo. Um dia, um aluno foi suspenso por dois dias, e o pai falou na frente de todo mundo da escola: “bem-feito, porque você vai ficar dois dias sem comer”. Saí de sala e chorei.
O professor diz que o apoio da equipe de Saúde e Bem-Estar foi fundamental para a sua recuperação. Eles sugeriram um tratamento psiquiátrico e uma licença de 30 dias. Este ano, ele voltou a dar aulas com todo gás. Sua mulher, Aline, professora da mesma escola, está grávida de oito meses de um menino que se chamará Marcos.
(O Globo)
— Era uma escola muito complicada: turmas muito cheias, faltava água sempre, e eu não podia liberar alunos mais cedo. Trabalhávamos em condições precárias. Comecei a me deprimir e não queria mais trabalhar. Era impossível dar aula. Já estava afetando bastante o conteúdo. Tinha medo de chegar ao portão da escola. Faltei uma semana direto. Vendo que estava em depressão, procurei um psiquiatra própria e entrei de licença. O governo não me ajudou em nada — diz ela.
Após a licença, ela mudou de escola. Segue com acompanhamento psiquiátrico e psicológico, mas diz que hoje se sente melhor:
— Tenho a mesma quantidade de alunos, mas consigo fazer um bom trabalho. Meus alunos hoje aprendem mais.
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), desde 2011 existe a Assessoria Técnica de Saúde e Bem-Estar para desenvolver ações com foco na melhoria das condições de trabalho, em três eixos: saúde no trabalho, segurança no trabalho e qualidade de vida no ambiente de trabalho. A secretaria diz também manter uma equipe de Saúde e Bem-Estar com 30 representantes lotados na sede e nas diretorias regionais, sendo composta por docentes e servidores com formação, na sua maioria, em Serviço Social e Psicologia.
Coordenadora do Sindicato de Profissionais da Educação do do Rio (Sepe-RJ), Beatriz Lugão diz que o número e apoio são insuficientes.
— Não é uma equipe de 30 pessoas que vai resolver esse problema numa rede de 70 mil professores. Já entramos no ano ouvindo que não vai ter merenda, verba para material e xerox. Tudo isso vai limando o dia a dia do magistério. Vai ter muita licença médica por causa disso esse ano. Antes era mais por doenças de esforço repetitivo e nas cordas vocais. Agora, foi ultrapassado por problemas psiquiátricos. — relata Beatriz.
Antoine Lousao, subsecretário de Gestão de Pessoas da Seeduc, diz que o número de profissionais é o permitido pela legislação.
— O projeto de lei que criou esse programa previa pouco mais de 40 profissionais com esse tipo de especialização. Em cada regional, que concentra cerca de 80 escolas, há um psicólogo e um assistente social. Eles fazem projetos nas unidades escolares para dar maior capilaridade. Temos programas preventivos sobre saúde mental, com vídeos institucionais e orientações da rede com um manual de cidadania — explica Lousao.
Segundo os pesquisadores Leigh McLean e Carol Connor, responsáveis pelo estudo publicado na “Child Development, “ensinar é uma das profissões mais estressantes”.
— Uma das consequências preocupantes de estresse ocupacional é que ele pode contribuir para taxas elevadas de sintomas de depressão. Nosso estudo revela algumas das implicações negativas das taxas mais elevadas de sintomas depressivos que afetam também os alunos desses professores. O estudo destaca a necessidade de sistemas de apoio à saúde mental para os educadores, não só para benefício deles, mas também dos estudantes— observa McLean.
Os autores da pesquisa sugerem que as escolas envolvam profissionais de saúde mental para ajudar os professores a lidar com a depressão. Eles também dizem que seriam benéficos programas de desenvolvimento profissional que ajudassem os docentes a aprender como lidar com situações adversas e estressantes na sala de aula, além de fornecer plano de saúde que cubra apoio à saúde mental.
O professor de língua portuguesa Cláudio Menezes Maia precisou tirar licença médica durante dois meses no ano passado. Ele entrou em depressão depois de uma série de episódios traumáticos. O primeiro foi quando sua mulher sofreu um aborto espontâneo. Depois, seu melhor amigo foi assassinado num ônibus quando voltava para casa da mesma escola em que dava aulas de educação física.
— Também tivemos um aluno que se suicidou porque era gay, a família era evangélica e não aceitava. Quando repensei a violência, comecei a cair mesmo. A fome, a precariedade de moradia, a falta de família violavam os direitos deles. E eu não tinha condições de fazer nada. Em determinados momentos, olhava que estávamos formando novos bandidos, como o que matou o meu amigo. Um dia, um aluno foi suspenso por dois dias, e o pai falou na frente de todo mundo da escola: “bem-feito, porque você vai ficar dois dias sem comer”. Saí de sala e chorei.
O professor diz que o apoio da equipe de Saúde e Bem-Estar foi fundamental para a sua recuperação. Eles sugeriram um tratamento psiquiátrico e uma licença de 30 dias. Este ano, ele voltou a dar aulas com todo gás. Sua mulher, Aline, professora da mesma escola, está grávida de oito meses de um menino que se chamará Marcos.
(O Globo)