domingo, 26 de abril de 2015

Apicultura: uma aliada na preservação ambiental

Anti-inflamatório, anti-hemorrágico e antioxidante: essas são apenas algumas propriedades do mel, um alimento saboroso e um ótimo adoçante natural, rico em funções terapêuticas. Entretanto, não é apenas para a saúde que o mel é valioso. Sua produção também é benéfica para o meio ambiente. Ao contrário de outras atividades, não há necessidade de desflorestar a região, por exemplo, para a criação de pastos, no caso da pecuária. Basta preservar as plantas nativas para que as abelhas encontrem um ambiente adequado para a produção do mel, do própolis e da geleia real, entre outros. De acordo com o casal de empresários Adriano Rodrigues de Azevedo e Lúcia Helena Munch, que mantém o apiário Mel de Teresópolis, na Região Serrana fluminense, a atividade pode aumentar em até 30% a produção de frutas, como laranja, limão, maçã e tangerina por meio da polinização. “Algumas frutas, como as amêndoas, dependem 100% da polinização apícola, que ocorre quando o pólen aderido nas abelhas fecunda a parte feminina das flores. Em outros casos, como a laranja ou a soja, a polinização aumenta a produtividade da plantação”, complementa Azevedo.

Pensando nas vantagens que a apicultura pode trazer para a preservação ecológica da região serrana, que engloba a Mata Atlântica, Azevedo desenvolve há 15 anos o projeto de parceria apícola com fazendas e sítios de Teresópolis e adjacências. O trabalho de Azevedo é visitar propriedades rurais e sugerir a produção de mel e própolis no lugar de outras atividades mais agressivas. Quando o dono da propriedade aceita a ideia, Azevedo e sua equipe montam o apiário e, em toda colheita, ele recebe 10% do que é produzido. “Além de os proprietários dessas áreas terem uma boa quantidade de mel durante todo o ano, que pode ser comercializada ou usada para consumo próprio, eles ainda preservam suas terras, enquadrando-se às diretrizes do novo Código Florestal, que determina que cada propriedade deve manter preservados 20% da cobertura nativa localizada em Mata Atlântica”, explica.

Com o projeto, que recebeu subsídios da FAPERJ por meio do edital Prioridade Rio - Apoio ao estudo de temas prioritários para o governo do estado do Rio de Janeiro, o empresário pôde expandir suas atividades, aumentando o alcance de seu trabalho e passando a treinar os funcionários de cada propriedade, com aulas de apicultura e ecologia. “Percebi o quanto é importante que cada trabalhador receba esses conhecimentos, pois, na maioria das vezes, os proprietários ficam distantes e são os funcionários que tomam a decisão do que será feito naquelas terras”, diz Azevedo. Ensinamentos sobre como a preservação florestal é importante para o ecossistema e para a biodiversidade ou sobre os diferentes tipos de mel que as plantas nativas ajudam a produzir fazem parte dos conhecimentos transmitidos por Azevedo, em uma espécie de treinamento contínuo. “Também mostramos que não se deve queimar nem retirar a vegetação nativa, pois todas têm funções ecossistêmicas”, complementa o empresário.

O capixingui, árvore nativa da Mata Atlântica, que pode alcançar de cinco a 10 metros de altura e de 15 a 30 centímetros de diâmetro, é um dos exemplos citados por Azevedo. Essa espécie, muito utilizada para reflorestamento, tem flores a partir das quais as abelhas produzem um mel fino e claro, muito bom para consumo. Outra árvore de nome peculiar também é citada pelo empresário: o Sangue de Dragão, comum na Região Serrana. Com uma altura que pode chegar a 30 metros, essa espécie tem flores que contribuem para a produção de um mel de cor âmbar, menos doce, considerado também como um digestivo suave.

A época em que Azevedo recebeu o apoio da Fundação coincidiu com a recuperação da catástrofe que assolou a Região Serrana, em 2011. “Foi uma ajuda mais do que providencial, pois, além de contribuir com a reconstrução de nossas instalações, também auxiliou na expansão dos nossos serviços”, conta. Com os recursos financeiros recebidos, o empresário comprou máquinas envasadoras eletrônicas, para encher potes e sachês de mel, plataformas de envase (superfície onde ficam as envasadoras), potes, e ergueu um muro de contenção para a construção de um galpão apícola, onde é executado todo o trabalho de manutenção de encaixotamento dos produtos. “Sabemos que a informação é o melhor meio de estabelecer novos comportamentos. Pretendemos fazer crescer a consciência ecológica em prol da preservação e também expandir a apicultura na região e no estado”, finaliza Azevedo.

(FAPERJ)