quarta-feira, 22 de abril de 2015

Brasil lidera consumo de agrotóxicos no mundo e Inca pede redução do uso

Relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Câncer, o Inca, pede a redução do uso de agrotóxicos no país. O texto cita que o Brasil se tornou o maior consumidor desses produtos no planeta, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas em 2009, equivalente a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante. A informação é do estudo "Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida", publicado em 2011 pela pesquisadora Flavia Londres.

A instituição afirma que a liberação do uso de sementes transgênicas no país foi uma das responsáveis por colocar o Brasil no primeiro lugar deste ranking, "uma vez que o cultivo dessas sementes geneticamente modificadas exige grandes quantidades destes produtos".

O documento indica também que a venda de agrotóxicos tem registrado constante aumento no país, saltando de US$ 2 bilhões para US$ 7 bilhões entre 2001 e 2008, e alcançando valores recordes de US$ 8,5 bilhões em 2001.

De acordo com o Inca, as atuais práticas de uso de produtos químicos sintéticos usados para matar insetos ou plantas no ambiente rural e urbano oferecem risco à saúde.

A instituição afirma que essas substâncias geram grandes problemas como poluição ambiental e intoxicação de pessoas, como trabalhadores e moradores dos arredores de plantações e criações. "As intoxicações agudas (...) são caracterizadas por efeitos como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte", explica a nota do instituto, sediado no Rio de Janeiro.

"Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer", destaca o documento.

Contaminação indireta
Citando análises realizadas por órgãos oficiais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, o Inca afirma que a presença de agrotóxicos "não ocorre apenas em alimentos "in natura", mas também "em muitos produtos alimentícios processados pela
indústria, como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizzas e outros
que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo".

Segundo o instituto, a preocupação com os agrotóxicos não pode significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras, que são considerados alimentos fundamentais em uma alimentação saudável e de grande importância na prevenção do câncer.

"O foco essencial está no combate ao uso dos agrotóxicos, que contamina todas as fontes de recursos vitais, incluindo alimentos, solos, águas, leite materno e ar", ressalta a nota.

O Inca finaliza o documento citando que o Brasil precisa mudar sua política de incentivo à produção de agrotóxicos, como a isenção de impostos ao setor – o que, segundo o relatório, é algo que vai na contramão das medidas protetoras recomendadas –, e a liberação de tipos de substâncias que são proibidas em outros países.

Além disso, pede que marcos políticos para o enfrentamento do uso de agrotóxicos sejam cumpridos para que ocorra “redução progressiva e sustentada” desses produtos no país.

(G1)