sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Algo de novo debaixo do Sol


Desde os anos 40 quando o conceito de proteção solar começou a ser estabelecido, a área da medicina dedicada aos estudos em torno dos danos decorrentes da exposição ao sol evoluiu exponencialmente. Tudo começou com os soldados americanos na II Guerra Mundial. Como forma de amenizarem as queimaduras, eles untavam o rosto com uma pasta viscosa e avermelhada, feita à base de petróleo. Nasceu ali, nas trincheiras das forças aliadas, o primeiro dos filtros solares. O segundo passo crucial foi dado entre as décadas de 70 e 80, com a distinção dos malefícios provocados pelas radiações ultravioleta do tipo A (UVA) e do tipo B (UVB). 


Os raios ultravioleta não são visíveis aos olhos humanos, mas estão associados ao que de pior o sol sem proteção pode acarretar. Com incidência durante todo o dia, o UVA se faz notar nas rugas e manchas precoces. Já o UVB, abundante entre as 10 horas da manhã e as 4 da tarde, é aquele que nos deixa vermelhos como pimentão, e o principal fator de risco para o câncer. Vive-se hoje um novo e extraordinário salto na dermatologia. Ao contrário do que dita o senso comum, a radiação UVA e a UVB não são as únicas vilãs dos banhos de sol descuidados. O raio infravermelho, associado até então apenas à sensação de calor, contribui também para o aparecimento precoce de rugas. "Esse feixe de energia pode responder por até 15% do envelhecimento da pele", diz o médico Adilson Costa, chefe do serviço de dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Identificado no espectro solar desde o fim do século XIX, o raio infravermelho foi subestimado até há pouquíssimo tempo por causa de suas características físicas. De todos os tipos de energia emanados do sol, ele está entre os menos potentes. No início dos anos 2000, foram divulgados os primeiros estudos associando a radiação infravermelha a um problema raríssimo de pele, o eritema abigne, caracterizado por lesões acompanhadas por prurido e ardência. Um dos trabalhos, publicado na prestigiosa revista científica Journal of the American Academy of Dermatology relacionou o aparecimento da doença a pessoas com o costume de usar laptops sobre as pernas por, no mínimo, seis horas ininterruptas, todos os dias. Aqui um parêntese: nos computadores portáteis, o raio infravermelho é o que não pode ser visto, mas sentido pelo calor que provoca. A partir de tal descoberta, constatou-se que o feixe infravermelho quebra as fibras de colágeno. estruturas de sustentação da pele.

O grau de periculosidade de um raio se explica por sua potência e também por sua afinidade com diversas substâncias da pele. O danoso UVB, associado à imensa maioria dos cânceres cutâneos, atinge sobretudo o DNA dos queratinócitos, as células responsáveis pelo revestimento da pele. Os alvos preferenciais do UVA são o colágeno e o melanócito, célula que produz melanina, a substância que dá cor à pele. Não é à toa que essa radiação responde pelo bronzeado tão sonhado no verão. Se o banho de sol for desprotegido, o UVA se transforma em vilão. O alvo do infravermelho são os fibroblastos. as células produtoras de colágeno.

Os filtros contra os raios UVA e UVB conseguem bloquear até 95% desses feixes. Alguns agem como a pasta dos soldados americanos da II Guerra Mundial. formando uma barreira física contra o sol. Outros, os mais sofisticados do ponto de vista tecnológico, absorvem os raios, enfraquecendo-os. Os produtos contra o infravermelho, que protegem também contra os ultravioleta, conseguem cortar cerca de metade dos danos da radiação sobre a pele. Tais protetores trazem compostos antioxidantes específicos em sua fórmula. "Têm por objetivo neutralizar os radicais livres, as moléculas tóxicas liberadas no processo de agressão da pele", diz Sérgio Schalka, coordenador do departamento de fotobiologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia. A medicina também tem se debruçado sobre os riscos oferecidos pelos raios artificiais, sejam os provenientes de lâmpadas, sejam os emitidos pela tela do computador.

Os raios artificiais são fracos, mas não devem ser subestimados. Uma pessoa que não se protege contra os raios artificiais chega aos 50 anos com cerca de 20% a mais de manchas na pele em relação a quem tem o hábito de se proteger. As melhores armas contra as luzes artificiais são os protetores com cor.


Fontes: Revista Veja, G1