sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

China é líder em construção de termelétricas não poluentes

A frenética construção de usinas termelétricas acionadas a carvão, na China, despertou preocupações em todo o mundo quanto ao possível efeito dessas unidades geradoras de energia sobre a mudança climática. A China utiliza mais carvão que os Estados Unidos, Europa e Japão combinados, o que faz do país o maior emissor mundial dos gases que causam o aquecimento global.

Mas um fator que em larga medida passou despercebido em meio a tantas preocupações foi o seguinte: nos últimos dois anos, a China emergiu como líder mundial na construção das chamadas usinas de carvão limpo; os chineses dominaram a tecnologia desse tipo de construção, e conseguiram reduzir bastante os seus custos.

Enquanto os Estados Unidos continuam a debater se devem ou não construir modelos mais eficientes de usinas termelétricas acionadas a carvão, usando vapor a temperatura extremamente elevada, os chineses já começaram a construi-las, e em ritmo da ordem de uma por mês.

Nos Estados Unidos, a construção de uma geração de usinas de energia com índices baixos de poluição que transformam o carvão em gás antes de queimá-lo está paralisada, ainda que o secretário da Energia, Steven Chu, tenha declarado na quinta-feira que o governo Obama talvez pudesse retomar as obras em uma das usinas desse tipo. Enquanto isso, a China já aprovou a aquisição de equipamentos para a construção da primeira usina desse novo modelo, que em breve será montada em um terreno hoje lamacento na periferia da cidade de Tianjin.

"As medidas que eles tomaram estão provavelmente entre as mais rápidas e as mais sérias na história dos sistemas de geração de energia", disse Hal Harvey, presidente da ClimateWorks, uma organização sem fins lucrativos de San Francisco que ajuda a financiar projetos que tentam limitar os efeitos do aquecimento global.

Os países ocidentais continuam a depender pesadamente de usinas termelétricas acionadas a carvão e construídas décadas atrás, com tecnologias antiquadas e ineficientes que requerem a queima de muito carvão e resultam na emissão de volume considerável de dióxido de carbono. A China começou a requerer que as empresas de energia aposentem uma de suas usinas mais antigas e mais poluentes para cada usina nova que desejem construir.

Cao Peixi, presidente do China Huaneng Group, a maior operadora estatal de geração de eletricidade no país e sócia majoritária na joint venture que responde pela construção da usina em Tianjin, disse que sua empresa estava decidida a levar o projeto a bom termo mesmo que seu custo seja superior ao das usinas convencionais.

"Não deveríamos considerar esse projeto de uma perspectiva puramente financeira", disse. "Ele representa o futuro". O setor de energia gerada com base na queima de carvão continua a enfrentar muitos problemas na China, e a emissão de gases do aquecimento global pelo país deve continuar a crescer. O objetivo da China é utilizar as mais recentes tecnologias para limitar o ritmo de alta.

Apenas metade das usinas acionadas a carvão do país contam com o equipamento de controle de emissões que remove compostos sulfurosos causadores da chuva ácida, e até mesmo as usinas equipadas com essa tecnologia ocasionalmente não a utilizam. A China tampouco começou a regulamentar seriamente algumas das emissões que causam smog pesado em muitas de suas grandes cidades.

Até mesmo entre as usinas de energia chinesas construídas há relativamente pouco tempo podem ser encontrados exemplares nada modernos. Apenas 60% das usinas novas estão sendo construídas com a utilização de tecnologia mais nova, altamente eficiente mas menos dispendiosa.

Quando a usina oferece maior eficiência, ela precisa queimar menos carvão e emitir menos dióxido de carbono por unidade de eletricidade que venha a gerar. Os especialistas dizem que as usinas de energia menos eficientes em operação na China hoje em dia convertem entre 27% e 36% da energia do carvão em eletricidade. Já as usinas mais eficientes atingem índice de conversão da ordem de 44%, o que significa que podem reduzir as emissões de gases causadores do aquecimento global em mais de um terço, se comparadas às usinas de baixa eficiência.

Nos Estados Unidos, as usinas mais eficientes conseguem atingir índices de conversão da ordem de 40%, porque elas não utilizam as temperaturas mais altas de vapor que estão sendo adotadas na China.

A eficiência média das usinas termelétricas acionadas a carvão nos Estados Unidos continua mais alta que a média das usinas chinesas, porque os chineses construíram um número muito grande de usinas ineficientes ao longo dos 10 últimos anos. Mas a China está rapidamente superando essa disparidade, com o uso dos mais avançados projetos mundiais em suas usinas.

Depois de basear seus projetos, até recentemente, em tecnologias antiquadas, "a China nos últimos anos se tornou o mais importante mercado mundial para usinas acionadas a carvão avançadas, com sistemas de controle de emissão que atendem às mais rigorosas especificações", afirmou a Agência Internacional de Energia (AIE) em relatório divulgado em 20 de abril.

As melhorias promovidas na China estão começando a fazer efeito sobre os modelos computadorizados do clima. Em, seu mais recente relatório anual, divulgado em novembro, a AIE reduziu sua projeção quanto ao crescimento anual das emissões chinesas de gases causadores do efeito-estufa de 3,2% para 3%, em resposta aos avanços tecnológicos obtidos, especialmente pelo setor de carvão, enquanto ao mesmo tempo a agência elevava ligeiramente suas projeções quanto ao crescimento econômico chinês. A agência agora está revisando novamente suas projeções quanto às emissões chinesas.

"A referência está claramente mudando, e isso está sendo levado em conta", disse Jonathan Sinton, especialista em assuntos chineses da AIE. Ainda assim, porque continua pesadamente dependente da queima de carvão, que responde por 80% de sua geração de eletricidade, a China está fadada a continuar emitindo muito dióxido de carbono. Até mesmo a mais eficiente das usinas de energia acionadas a carvão emite duas vezes mais dióxido de carbono do que uma usina termelétrica acionada a gás natural.

Talvez a questão mais grave agora seja determinar quanto mais a China poderá avançar, para além das medidas recentes. O mais importante seria determinar com que velocidade os chineses avançarão na direção de usinas de energias que capturam suas emissões e as armazenam no subsolo ou sob o leito do mar.

Tecnologia como essa poderia, em tese, criar usinas de energia cuja contribuição para o aquecimento global é zero. Muitos países têm a esperança de desenvolver esse tipo de usina, ainda que o progresso venha sendo hesitante. Chu, o secretário da Energia norte-americano, prometeu medidas para acelerar o desenvolvimento dessa tecnologia, conhecida como "confinamento de carbono", nos Estados Unidos.

Por enquanto, a China construiu apenas uma pequena instalação experimental perto de Pequim a fim de remover o dióxido de carbono gerado nas usinas de energia e utilizá-lo como forma de gaseificar refrigerantes, e o governo tem uma lista de locais viáveis para uma grande experiência de captura e armazenagem de dióxido de carbono. Mas até o momento não existem planos para fazer dessas idéias uma política nacional.

A China vem tomando outras medidas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global. Duplicou sua capacidade de energia eólica a cada ano, pelos últimos quatro, e deve ultrapassar os Estados Unidos em breve, talvez ainda este ano, como maior mercado mundial para equipamentos de energia eólica.

A China está construindo usinas nucleares em número consideravelmente maior que o de todos os demais países combinados, e elas tampouco emitem dióxido de carbono depois de construídas. Mas o carvão continua a ser a fonte mais barata de energia para a China, por larga margem. O país dispõe da terceira maior reserva mundial de carvão, depois dos Estados Unidos e Rússia.

"Não importa quanto energia renovável venha a ser gerada, o carvão continuará a ser a fonte de energia dominante", disse Ashok Bhargava, especialista em assuntos energéticos chineses para o Banco de Desenvolvimento da Ásia, em Manilha.

Outro problema é que a China por fim desenvolveu a capacidade de construir usinas de energia de alta tecnologia, mas isso aconteceu ao final de um período de construção acelerada de usinas acionadas a carvão, de baixa tecnologia. O ritmo de construção está se desacelerando devido à crise econômica.

Ao adotar tecnologia "ultra-supercrítica", que usa vapor em temperatura extremamente elevada a fim de obter a mais elevada eficiência, e ao construir muitas usinas idênticas ao mesmo tempo, a China reduziu dramaticamente os seus custos de construção, explorando a economia de escala. Hoje, construir uma usina desse modelo na China pode custar um terço menos do que construir uma usina acionada a carvão de menor eficiência nos Estados Unidos.

Fonte: The New York Times