Os estudos de vacinas profiláticas contra o HPV (papilomavírus humano) ensejaram uma série de questionamentos envolvendo homens e mulheres e se há necessidade de a vacina ser ou não administrada em pessoas de ambos os sexos.
O Ministério da Saúde discute uma eventual recomendação para a inclusão da vacina contra o HPV no programa nacional de vacinação, pelo Sistema Único de Saúde. Mas há dúvida se devem ser vacinadas apenas mulheres ou, então, mulheres e homens.
Formado por um grupo de mais de 100 tipos, o HPV pertence ao rol das doenças sexualmente transmissíveis, mas, na maioria das vezes, a infecção é transitória e desaparece sem deixar vestígios. Sua capacidade oncogênica é que preocupa os especialistas – considerados de alto risco, os tipos 16 e 18 são os mais frequentes em cânceres do colo do útero e anal.
“Se eliminarmos a maior parte dos tipos de alto risco, vamos caminhar para a diminuição ou mesmo erradicação das doenças ligadas ao HPV”, disse Luisa Lina Villa, coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do HPV (INCT-HPV), durante o Simpósio Internacional de Pesquisa em HPV, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, na semana passada. O INCT-HPV tem apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Em 2006, uma vacina quadrivalente recombinante contra o papilomavírus humano – que estimula a produção de anticorpos específicos para os tipos 6,11,16,18, sendo os dois primeiros de baixo risco – foi a primeira a ser liberada.
Dois anos depois, entrou em cena a vacina bivalente, que protege contra os tipos 16 e 18 do vírus. Em mais de 40 países optou-se por fazer uso do imunizante em programas públicos de vacinação. Em outros, incluindo o Brasil, esse tipo de programa acabou não sendo implementado, o que deverá ocorrer em breve.
A vacina quadrivalente (MSD) foi aprovada no Brasil para mulheres de 9 a 26 anos, faixa etária em que foram realizados os primeiros estudos de fase 3, que mediu a eficácia do produto.
Recentemente, o imunizante demonstrou eficácia em mulheres de até 45 anos, e está sendo avaliada a eficácia em homens de 16 a 23 anos, incluindo os grupos dos que fazem sexo com mulheres ou que se relacionam sexualmente com homens. Uma das razões para os testes em homens é que o HPV também pode estar associado a casos de câncer de pênis e câncer anal.
“Ainda há controvérsia em torno da melhor relação custo-benefício na vacinação apenas de mulheres e na vacinação com mulheres e homens. Penso que, se ampliássemos a vacinação, iríamos acelerar a diminuição da doença. Não há motivos para atrasar um processo que trará benefícios para a humanidade”, disse Luisa, que também é professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, à Agência FAPESP.
O virologista norte-americano Raphael Viscidi, professor da Universidade Johns Hopkins, não vê necessidade de se estender a vacinação para os homens, uma vez que, segundo ele, o câncer de pênis, por exemplo, é 20 vezes mais raro do que o cervical, doença que mata anualmente pelo menos 290 mil mulheres no mundo.
“Não há necessidade de se vacinar os homens contra a infecção pelo HPV, mas sim prevenir a ocorrência das doenças associadas a ele”, afirmou Viscidi durante o Simpósio Internacional de Pesquisa em HPV. A reserva do pesquisador, segundo ele, pode ser explicada pelo fato de a vacina ainda ter taxas de aceitação e cobertura baixas nos Estados Unidos.
Em todo o mundo, a distribuição do HPV é relativamente semelhante, com uma prevalência mundial em torno dos 10%.
Para o presidente do Instituto de Prevenção ao Câncer de Colo do Útero (Incolo), o médico ginecologista gaúcho Paulo Naud, também presente ao simpósio, a grande vítima é a mulher, uma vez que o Brasil registra anualmente cerca de 18 mil novos casos de câncer do colo do útero, o que justifica a importância da vacinação.
"Esses tipos de tumores estão associados ao papilomavírus, contra o qual a grande arma acabou se tornando a vacina. A cada hora, mais de duas brasileiras são diagnosticadas com esse câncer, e os imunizantes desenvolvidos têm mostrado 100% de eficácia. Prevenindo as infecções precursoras, podemos eliminar a doença”, destacou.
Fonte: Agência FAPESP
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