O jornal francês Le Monde demonstra preocupação com a “real inversão da tendência” no desmatamento na Amazônia. Em sua edição dupla de domingo e segunda-feira, o respeitado diário observa que a alta de 28% no desflorestamento, num total de 5.843 km2, equivale a uma área semelhante ao departamento francês de Corrèze, no centro do país.
Os números foram divulgados dia 14 pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e atestam que, após quatro anos de queda, o desmatamento voltou novamente a subir, como já indicavam cientistas e defensores do meio ambiente ao longo do ano. Nos últimos 10 anos, diz, a diminuição total foi de 80%. O jornal lembra que, em 2012, os dados indicavam “a menor redução” da Amazônia “da história recente”.
O correspondente Nicolas Bourcier destaca que a inversão da tendência “coincide com a entrada em vigor do novo Código Florestal”, promulgado em maio de 2012 pela presidente Dilma Rousseff. “O poderoso lobby dos representantes do setor agrícola no Parlamento, os ruralistas, tinha pesado com tudo para aliviar o Código Florestal original, adotado em 1965 e considerado um dos mais rigorosos no mundo”, afirma o texto.
Ao jornalista francês, o coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, Marcio Astrini, disse que “houve um acerto com os ruralistas e nós acordamos com uma alta do desmatamento”. Já o especialista do Instituto Imazon Paulo Barreto ressaltou que, além da aprovação do novo código, “a redução das zonas protegidas e o aumento das obras de infraestrutura” também explicam a alta.
Para a ministra do Meio Ambiente, entretanto, a relação entre o novo Código Florestal e a elevação do desflorestamento é “irresponsável”, observa o Le Monde. Ela sublinhou que o texto aprovado trouxe novos instrumentos jurídicos para controlar a utilização das terras.
Na opinião de Teixeira, os números refletem a cumplicidade entre alguns Estados e os proprietários de terras. “Tem o crime organizado e as pessoas que acobertam as suas atividades. Como os governos podem não ver atividades de desmatamento que se espalham em áreas de 1.000 hectares?”, questionou a ministra.
O jornal lembra que uma “reunião de emergência” com os secretários do Meio Ambiente de Estados amazônicos foi marcada para o final de novembro para tratar do assunto.
(RFI)