Jovem promissor, talentoso e frequentemente elogiado por colegas e supervisores. Antes dos 28 anos, Caio* passou por várias áreas dentro do banco até ser promovido a diretor de negócios. Um bom salário, status e o respeito dos colegas eram algumas das promessas anunciadas pela nova etapa profissio¬nal. Caio, naturalmente, topou o desafio. Assumiu a função sem titubear. Oito meses depois, teve de se afastar do trabalho. O motivo: problemas psicopa¬to¬lógicos. Após assumir o cargo, Caio passou a apresentar transtorno de ansiedade. Já não se alimentava e não dormia. Quando cochilava, tinha pesa¬delos com o banco - sonhava com as tarefas pendentes. No mesmo período, o jovem apresentou redução da libi¬do. Não tinha ânimo. No trabalho, teve queda na produtividade. A vida pessoal já era quase nula. "A rotina era baseada na pressão. Minha vida era nor¬teada por números e prazos. Tinha múltiplas tarefas e datas-limite simplesmente impossíveis de serem cumpridas. Me cobrava muito. Tinha que dar conta de tudo. No entanto, chegou a um ponto que não aguentei mais", recorda-se.
A promoção tornou-se um martírio. Caio pensou em muitas maneiras de se livrar da situação: pedir demissão, mudar de cidade e, até, suicidar-se. O jovem profissional passou a tomar remédios controlados. Ficou longe do banco durante três meses, por recomendação mé¬dica. Precisou de ajuda psiquiátrica e psicológica para se restabelecer. Quando retornou, optou pela mudança de ambiente. Hoje, e¬xerce a função de gerente. Diz que se sente melhor assim. De sua experiência, garante ter ti¬rado uma conclusão: "o trabalho no setor bancário adoece".
À primeira vista, a vivência de Caio não condiz com a imagem que se tem do segmento bancário, ramo cuja média salarial mínima é superior a 3.600 reais. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o setor compõe a lista de atividades econômicas responsáveis pelas maiores remunerações do país.
O universo bancário brasileiro é constituído de 156 bancos, mais de 19 mil agências, quase 44 mil postos de atendimento e 170 mil caixas eletrônicos. Ainda conforme a Febraban, mais de 450 mil trabalhadores estão vinculados diretamente ao setor.
Os bancos Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, as três maiores instituições financeiras do país, fecharam 9.589 postos de trabalho em 2009, segundo estudo do Dieese a da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
O Itaú Unibanco foi o banco que mais cortou empregos no ano passado, fechando 6.387 postos de trabalho. A instituição financeira tinha 108.027 trabalhadores em dezembro de 2008, após a fusão com o Unibanco, e fechou o ano passado com 101.640 bancários.
Segundo o sindicato, as demissões ocorreram mesmo com os bancos tendo visto seus lucros crescerem e somarem, juntos, R$ 24 bilhões.
Também houve redução da remuneração oferecida. Os empregados desligados de janeiro a setembro de 2009 recebiam remuneração média de R$ 3.494,25. Já os contratados têm salário médio 4% menor, de R$ 2.051,80.
Fontes: Revista Proteção, Dieese