quinta-feira, 14 de outubro de 2010

No Rio de Janeiro, apenas um ônibus entre 20 recebe nota máxima em teste de segurança

Enquanto para os donos de carros crescem as exigências de segurança - como as recentes normas para o transporte de crianças em cadeirinhas -, a proteção aos passageiros deixa a desejar no caso dos ônibus municipais e intermunicipais do Rio. Num teste feito com 20 ônibus, a pedido do GLOBO, pelo engenheiro mecânico e de segurança Jacques Sheriqui, diretor do Clube de Engenharia, só um deles foi considerado cem por cento apto a circular. Apesar de a informação estar escrita na carroceria, o sistema que impede a circulação com as portas abertas foi reprovado em dez dos 11 coletivos que puderam ser testados nesse quesito - já que havia necessidade de colaboração do motorista. Os outros veículos apresentaram diversos tipos de problemas, de falta de espelho retrovisor a pneus carecas.


- Num painel acima da porta dianteira, mexem no sistema que impede o ônibus de circular com as portas abertas. Isso é um risco, principalmente para os idosos, que têm mais dificuldade para subir no veículo e descer dele - constatou Sheriqui.

Segundo o Corpo de Bombeiros, só na capital, os acidentes envolvendo ônibus deixaram 1.852 feridos e 21 mortos de janeiro a julho deste ano.

O teste foi feito nos terminais da Praça Quinze, da Central, nos fundos da Rodoviária Novo Rio e da Praça Nossa Senhora Auxiliadora (Leblon).

- Há alguns ônibus que oferecem riscos sérios para os usuários. Os órgãos públicos precisam ampliar a fiscalização - concluiu Sheriqui.
O único veículo considerado 100% para rodar no teste foi um da linha 125 (Central-Jardim de Alah):
- Se não fechar as portas, o ônibus não sai do lugar - demonstrou o motorista, acelerando.

O inverso aconteceu quando foi testado o sistema de portas de ônibus das linhas 292 (Engenho da Rainha-Praça Quinze), 118-B (Nova Iguaçu Praça Quinze), 158 (Central-Gávea), 179 (Centro-Alvorada), 184 (Estrada de Ferro-Laranjeiras) e 125C (Central-Magé), entre outras. No 118-B, os alçapões no teto contrariavam a norma - tinham apenas a função de ventilação, não podendo ser retirados em caso de emergência. No 179, outros problemas eram o volante em mau estado, bancos rasgados e sujeira. Os bancos do 125C estavam na mesma situação.

Um veículo da linha 370 (Bangu-Praça Quinze) estava com pneu careca, quebra-vento danificado e bancos rasgados. Num da linha Pavuna-Praça Quinze (376), vazava óleo numa roda. Em outro, que liga a Central ao Recreio (175), faltava o retrovisor externo esquerdo. Um S-11 (Cosmos-Praça Quinze) estava com pneus carecas. Igual falta de manutenção foi constatada num 127 (Rodoviária-Copacabana): ele circulava com volante quebrado e o banco do motorista solto.

Vice-presidente do Rio Ônibus (sindicato que reúne as empresas da capital), Otacílio Monteiro reconhece que há veículo com problemas de segurança e conforto, embora assegure que se trata de uma minoria:
- Isso vai mudar. A fiscalização será intensificada, com o contrato de concessão das linhas municipais. Além disso, o novo Código Disciplinar fixa multas pesadas. Temos 8.600 ônibus e a frota mais nova do Brasil, com idade média de 4,5 anos. Já foi de 2,5 anos. Só que a frota envelheceu, por causa da questão tarifária.

No edital de licitação das linhas municipais - vencido por quatro consórcios, que devem começar a operar dia 6 de novembro -, a idade limite da frota é de oito anos para os ônibus urbanos. Há prazos, que se estendem até 2014, para a implantação de equipamentos como câmeras de segurança, acesso para cadeiras de rodas e GPS. O padrão técnico dos veículos ainda será objeto de regulamentação. Uma das exigências que deverá ser feita é o motor traseiro em vez do dianteiro.

No caso dos ônibus intermunicipais - são 7.500 coletivos de 103 empresas -, Richele Cabral, gerente de Planejamento da Fetranspor, diz que a idade média da frota em circulação é de cinco anos:
- Há situações pontuais. O sistema sofreu degradação por causa das vans. Agora, o problema acabou e, com o tempo, vai haver melhoria.

Fonte: O Globo, 13/10/10