O maior vazamento da história da indústria petrolífera, ocorrido este ano, lançou novos olhares sobre a extração em águas profundas. De acordo com especialistas, a catástrofe no Golfo do México terá como consequência não apenas o reforço na segurança de todos os procedimentos de extração de petróleo e gás e da perfuração de poços, mas também o incremento na pesquisa de prevenção de acidentes e o aumento no rigor da fiscalização das atividades da indústria pelas agências reguladoras.
Os trabalhos para selar o poço no fundo do mar foram realizados. A indústria petrolífera sentiu a repercussão do acidente: a BP viu suas ações despencarem e anunciou um prejuízo de 32 bilhões de dólares, sendo que, aproximadamente, 3 bilhões já foram gastos na limpeza do mar e nos custos para tentar parar o vazamento, e 20 bilhões serão destinados a um fundo que a empresa se comprometeu a criar para pagar indenizações e compensar os prejuízos causados pelo acidente. Para arcar com todos os custos, a companhia está colocando à venda alguns de seus ativos e suspendeu o pagamento de bônus a seus executivos.
Em artigo publicado no Globo, em 8 de agosto, o presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, advertiu que a complexidade do acidente e a demora de sua resolução causam preocupações com normas adequadas de segurança para todo o processo de extração petrolífera submarina. No Brasil, segundo ele, o acidente acelerou os trabalhos para se colocar em pauta na Câmara o Plano Nacional de Contingência para Derramamento de Óleo.
“A grande quantidade de plataformas no nosso litoral não deixa esquecer a necessidade urgente da regulamentação, prevista em lei desde 2000. Se um acidente parecido ocorresse aqui, as empresas que exploram o óleo em nossa costa, excetuando-se a Petrobras, não teriam condição de detê-lo, o que é preocupante”, frisou Agostinho.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o acidente é um marco e serviu de alerta para a indústria. “Muita gente achava que explorar petróleo no mar não trazia tantos riscos ambientais. Essa impressão caiu por terra depois do vazamento e ainda estão sendo calculadas a extensão e a gravidade dos danos. Atualmente, apenas 20% do petróleo do mundo são oriundos do mar, mas a taxa de crescimento deste tipo de produção é maior. Portanto, furar cada vez mais poços em águas cada vez mais profundas e distantes da costa aumenta em muito os riscos de acidentes. É um alerta tanto para as empresas quanto para os governos, que precisam fiscalizar a exploração de forma mais rigorosa”, acredita.
A investigação para apurar as causas do acidente ainda está em andamento, mas algumas hipóteses já estão sendo levantadas. De acordo com o diretor de tecnologia e inovação da Coppe-UFRJ, engenheiro Segen Stefen, os indícios apontam problemas nos procedimentos de perfuração. “Há controvérsias sobre os procedimentos finais. Havia uma certa pressa em terminar aquele poço.
Existe a teoria de que houve um vazamento, e os equipamentos existentes para contê-lo foram insuficientes, em uma cadeia de eventos que vão desde falha mecânica ao erro humano, possivelmente. Então esse óleo subiu em alta pressão e chegou à plataforma, causando a explosão”, explica.
Segundo Segen, as medidas de prevenção utilizadas hoje pela indústria possuem padrões avançados, mas é preciso transformar o trágico acidente em aprendizado para reforçá-las. O pesquisador acredita que a indústria deve caminhar para uma padronização internacional de segurança. “O acidente não pode ser subestimado. Em engenharia, nós sempre temos que aprender lições com este tipo de situação.
Em indústrias de alto risco, como a petrolífera e a nuclear, é necessário diminuir a probabilidade de falhas, pois as consequências de um acidente, como nos foi mostrado neste episódio, são muito graves”, afirma.
Estudos da Coppe mostram que a utilização de dois equipamentos chamados Blow Out Preventer (BOP), usados na interseção entre o poço e o solo marinho, seriam importantes para aumentar a segurança. As plataformas atuais possuem apenas um equipamento. “Quando se faz uma perfuração para atingir o acúmulo de petróleo e gás, o BOP é colocado no fundo do mar, no que chamamos de ‘cabeça do poço’. Ele corta o duto que conduz a broca e outros aparelhos para perfuração e faz a vedação. Nossos estudos mostram que, ao invés de se usar apenas um sistema de corte e vedação, se forem colocados dois BOPs, no caso de falha de um, você pode acionar o outro”, explica Segen.
Além da urgência em se estabelecer regras mais claras para a segurança de todo esse processo – frisou Agostinho Guerreiro, no mesmo artigo – a tragédia ambiental também traz à tona a importância de uma regulação séria para a distribuição dos royalties, pois é um grave exemplo da vulnerabilidade da costa dos estados produtores. Recentemente, lembra o presidente do Crea-RJ, o Estado do Rio recebeu um golpe quando o Senado aprovou a Emenda Ibsen, que prevê que a divisão do montante seja feita de forma igualitária entre estados produtores e não produtores. “Espera-se que o presidente Lula vete”, arrematou Agostinho.
Os custos ambientais e financeiros do vazamento ainda estão sendo avaliados, e há quem diga que a exploração em águas profundas deve encarecer. Para o diretor da Coppe, porém, este aumento do preço não inviabiliza a exploração, uma vez que o petróleo ainda será, pelo menos pelas próximas décadas, o principal motor da economia planetária.
“Este acidente foi um caso isolado, acho muito difícil acontecer outro com esta magnitude. Após as inúmeras tentativas de contenção do vazamento, se chegou a falar que asseguradoras das empresas petrolíferas poderiam aumentar seus preços, e que esta alta poderia encarecer a produção. Na minha opinião, esteaumento não chega a comprometer o retorno que a indústria tem com a exploração. Ninguém vai mudar a matriz energética nos próximos cinco, dez ou 15 anos”, prevê.
De acordo com Adriano Pires, o aumento da fiscalização dasagências reguladoras e do rigor dos órgãos ambientais na emissão de licenças pode encarecer um pouco mais a produção, mas isso deve variar muito de país para país, e as companhias vão procurar alternativas. “Recentemente, a Exxon Mobil, a Shell e a Chevron anunciaram uma joint venture para desenvolver, operar e manter equipamentos que evitem acidentes, uma vez que este foi caro demais. A BP quase quebrou”, exemplifica. Ele aposta em um investimento maior na diversificação das matrizes energéticas. “Energia é algo com uma inércia muito grande, não se troca uma pela outra em pouco tempo.
Há uma série de alternativas limpas já descobertas, mas que ainda são muito caras. Com a maior conscientização sobre o tema, e a pressão dos ambientalistas, essa diversificação tende a acontecer de forma mais rápida, porém mais regional. O Brasil, por exemplo, terá uma grande vantagem na produção de biocombustível, assim como os Estados Unidos na produção de hidrogênio”, acredita.
No fim de março, pouco antes do acidente, o presidente norte-americano Barack Obama havia anunciado a autorização para o aumento da exploração de petróleo em alto mar – medida que foi rapidamente revertida após a explosão da plataforma no Golfo do México. Havia, entre os planos, a autorização para a perfuração de poços no Alasca, área protegida por uma legislação ambiental de 1981. A suspensão das atividades por seis meses foi derrubada no fm de junho, mas, pouco depois, em julho, o presidente anunciou nova decisão. Neste mesmo mês, o comissário de Energia da União Europeia, Guenther Oettinger, propôs suspender temporariamente a exploração em águas profundas no Mar do Norte, no Mar Negro e no Mediterrâneo. A Noruega, que não faz parte do bloco, também proibiu a atividade no Mar do Norte.
Ao mesmo tempo, no Brasil, o governo anunciava o início da exploração das reservas do pré-sal no Espírito Santo, que foram descobertas em 2008. A inauguração do campo dividiu especialistas da área, mas o consenso é de que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deve, neste momento, assumir um papel de maior protagonismo na regulamentação da exploração.
Para Segen Stefen, o país não deve interromper seus trabalhos. “Não devemos parar a exploração porque estamos vivendo um momento decisivo para a indústria com o pré-sal. Mas o Brasil também não pode dar uma de esperto e achar que está por cima. Não pode interromper, mas é preciso aumentar a atuação da ANP na fscalização, capacitá-la com quadros técnicos fortes. Hoje, falta massa crítica de técnicos para dar conta desta tarefa”, critica.
Na opinião de Adriano Pires, o país não pode prescindir da riqueza do pré-sal, mas é preciso cautela. “Eu fico preocupado com um certo populismo do governo dizendo que esse tipo de acidente não vai acontecer aqui. É preciso que a ANP não seja capturada por interesses políticos, tenha mais independência para poder fiscalizar as empresas. Acho muito complicado, por exemplo, discutirmos o marco regulatório do pré-sal em plena época de eleição, pois não é o cenário ideal para uma discussão mais serena”, alerta Adriano Pires.
O diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, afrma, no entanto, que o rigor vai aumentar. “O acidente só reforça o nosso papel. Estamos nos preparando para aperfeiçoar a regulamentação de segurança operacional e para reforçar a nossa fscalização. No Brasil, a fscalização exige que o concessionário prove à ANP que está operando com o menor risco possível. Se a nossa fscalização encontra, por exemplo, um parafuso defeituoso em uma sonda, exigimos não só que o parafuso seja substituído, mas também uma investigação sobre o problema. Esse nosso conceito de fscalização tem sido muito elogiado pelos especialistas em segurança operacional no mundo e também pela imprensa internacional”, diz.
Recentemente, o órgão divulgou que está elaborando, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e a Marinha, o Plano Nacional de Contingência. De acordo com Haroldo Lima, a agência reguladora está analisando as informações enviadas pelas empresas petrolíferas a respeito da situação dos poços brasileiros e dos planos de contingência.
Fonte: CREA-RJ
Em indústrias de alto risco, como a petrolífera e a nuclear, é necessário diminuir a probabilidade de falhas, pois as consequências de um acidente, como nos foi mostrado neste episódio, são muito graves”, afirma.
Estudos da Coppe mostram que a utilização de dois equipamentos chamados Blow Out Preventer (BOP), usados na interseção entre o poço e o solo marinho, seriam importantes para aumentar a segurança. As plataformas atuais possuem apenas um equipamento. “Quando se faz uma perfuração para atingir o acúmulo de petróleo e gás, o BOP é colocado no fundo do mar, no que chamamos de ‘cabeça do poço’. Ele corta o duto que conduz a broca e outros aparelhos para perfuração e faz a vedação. Nossos estudos mostram que, ao invés de se usar apenas um sistema de corte e vedação, se forem colocados dois BOPs, no caso de falha de um, você pode acionar o outro”, explica Segen.
Além da urgência em se estabelecer regras mais claras para a segurança de todo esse processo – frisou Agostinho Guerreiro, no mesmo artigo – a tragédia ambiental também traz à tona a importância de uma regulação séria para a distribuição dos royalties, pois é um grave exemplo da vulnerabilidade da costa dos estados produtores. Recentemente, lembra o presidente do Crea-RJ, o Estado do Rio recebeu um golpe quando o Senado aprovou a Emenda Ibsen, que prevê que a divisão do montante seja feita de forma igualitária entre estados produtores e não produtores. “Espera-se que o presidente Lula vete”, arrematou Agostinho.
Os custos ambientais e financeiros do vazamento ainda estão sendo avaliados, e há quem diga que a exploração em águas profundas deve encarecer. Para o diretor da Coppe, porém, este aumento do preço não inviabiliza a exploração, uma vez que o petróleo ainda será, pelo menos pelas próximas décadas, o principal motor da economia planetária.
“Este acidente foi um caso isolado, acho muito difícil acontecer outro com esta magnitude. Após as inúmeras tentativas de contenção do vazamento, se chegou a falar que asseguradoras das empresas petrolíferas poderiam aumentar seus preços, e que esta alta poderia encarecer a produção. Na minha opinião, esteaumento não chega a comprometer o retorno que a indústria tem com a exploração. Ninguém vai mudar a matriz energética nos próximos cinco, dez ou 15 anos”, prevê.
De acordo com Adriano Pires, o aumento da fiscalização dasagências reguladoras e do rigor dos órgãos ambientais na emissão de licenças pode encarecer um pouco mais a produção, mas isso deve variar muito de país para país, e as companhias vão procurar alternativas. “Recentemente, a Exxon Mobil, a Shell e a Chevron anunciaram uma joint venture para desenvolver, operar e manter equipamentos que evitem acidentes, uma vez que este foi caro demais. A BP quase quebrou”, exemplifica. Ele aposta em um investimento maior na diversificação das matrizes energéticas. “Energia é algo com uma inércia muito grande, não se troca uma pela outra em pouco tempo.
Há uma série de alternativas limpas já descobertas, mas que ainda são muito caras. Com a maior conscientização sobre o tema, e a pressão dos ambientalistas, essa diversificação tende a acontecer de forma mais rápida, porém mais regional. O Brasil, por exemplo, terá uma grande vantagem na produção de biocombustível, assim como os Estados Unidos na produção de hidrogênio”, acredita.
No fim de março, pouco antes do acidente, o presidente norte-americano Barack Obama havia anunciado a autorização para o aumento da exploração de petróleo em alto mar – medida que foi rapidamente revertida após a explosão da plataforma no Golfo do México. Havia, entre os planos, a autorização para a perfuração de poços no Alasca, área protegida por uma legislação ambiental de 1981. A suspensão das atividades por seis meses foi derrubada no fm de junho, mas, pouco depois, em julho, o presidente anunciou nova decisão. Neste mesmo mês, o comissário de Energia da União Europeia, Guenther Oettinger, propôs suspender temporariamente a exploração em águas profundas no Mar do Norte, no Mar Negro e no Mediterrâneo. A Noruega, que não faz parte do bloco, também proibiu a atividade no Mar do Norte.
Ao mesmo tempo, no Brasil, o governo anunciava o início da exploração das reservas do pré-sal no Espírito Santo, que foram descobertas em 2008. A inauguração do campo dividiu especialistas da área, mas o consenso é de que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deve, neste momento, assumir um papel de maior protagonismo na regulamentação da exploração.
Para Segen Stefen, o país não deve interromper seus trabalhos. “Não devemos parar a exploração porque estamos vivendo um momento decisivo para a indústria com o pré-sal. Mas o Brasil também não pode dar uma de esperto e achar que está por cima. Não pode interromper, mas é preciso aumentar a atuação da ANP na fscalização, capacitá-la com quadros técnicos fortes. Hoje, falta massa crítica de técnicos para dar conta desta tarefa”, critica.
Na opinião de Adriano Pires, o país não pode prescindir da riqueza do pré-sal, mas é preciso cautela. “Eu fico preocupado com um certo populismo do governo dizendo que esse tipo de acidente não vai acontecer aqui. É preciso que a ANP não seja capturada por interesses políticos, tenha mais independência para poder fiscalizar as empresas. Acho muito complicado, por exemplo, discutirmos o marco regulatório do pré-sal em plena época de eleição, pois não é o cenário ideal para uma discussão mais serena”, alerta Adriano Pires.
O diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, afrma, no entanto, que o rigor vai aumentar. “O acidente só reforça o nosso papel. Estamos nos preparando para aperfeiçoar a regulamentação de segurança operacional e para reforçar a nossa fscalização. No Brasil, a fscalização exige que o concessionário prove à ANP que está operando com o menor risco possível. Se a nossa fscalização encontra, por exemplo, um parafuso defeituoso em uma sonda, exigimos não só que o parafuso seja substituído, mas também uma investigação sobre o problema. Esse nosso conceito de fscalização tem sido muito elogiado pelos especialistas em segurança operacional no mundo e também pela imprensa internacional”, diz.
Recentemente, o órgão divulgou que está elaborando, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e a Marinha, o Plano Nacional de Contingência. De acordo com Haroldo Lima, a agência reguladora está analisando as informações enviadas pelas empresas petrolíferas a respeito da situação dos poços brasileiros e dos planos de contingência.
Fonte: CREA-RJ