quinta-feira, 14 de julho de 2011

Para acabar de vez com o medo de ir ao dentista

Praticamente dez entre dez pessoas têm medo de ir ao dentista. Isto ocorre porque, nos últimos 50 anos, a remoção de cáries, doença que afeta mais de 95% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, tem sido realizada por meio de brocas rotativas que causam dor, estresse por ruído, tensão e lesões na gengiva.
Além disso, o uso de agulhas para aplicação de anestesia também é motivo de pavor para muitas pessoas. Em consequência disso, muitos chegam ao ponto de, para usar a expressão popular, fugir do dentista como o diabo foge da cruz, com isso, prejudicando a própria saúde com doenças bucais que vão de uma simples dor de dente até mesmo tumores malignos e outros problemas dentais. Em busca de uma forma de solucionar esses problemas, pesquisadores da empresa fluminense Superdont desenvolveram, em 2001, o único sistema produzido no País – e em toda a América Latina – para a remoção de cáries e tártaro, que dispensa o uso de brocas e de anestesia, sem o irritante barulho do motor das brocas dentárias, praticamente sem dor e sem incômodos para os pacientes.

Entretanto, o aparelho ainda apresentava um pequeno incômodo estético para os dentistas: o excesso de poeira liberado em função da remoção das cáries e do tártaro. Agora, com auxílio do edital Apoio à Inovação Tecnológica no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, o problema se tornará quase imperceptível. "Graças ao apoio da Fundação, foi criado um novo protótipo do aparelho, com um sistema de cortina de água capaz de diminuir em 95% a poeira liberada, sem perda da eficiência", explica o diretor-presidente da Superdont, idealizador do aparelho e cirurgião-dentista Izio Mazur.


Para Izio Mazur, que também já foi professor da Universidade de Nova Iguaçu (Unig), as faculdades de Odontologia precisam dar mais valor às técnicas desenvolvidas no País. Ao verificar que os dentistas em geral ficam muito fechados em seus consultórios e trocam pouca informação, Mazur resolveu criar a Superdont há onze anos e logo depois, o sistema de microabrasão. Seu objetivo é tornar a odontologia mais acessível e acabar com seus três problemas principais: o alto custo dos materiais, a complexidade dos procedimentos clínicos e a dor que muitos desses procedimentos trazem. "Esses três aspectos têm afastado os pacientes dos consultórios, resultando em índices avassaladores de doenças bucais", destaca.

No caso das brocas, comumente usadas nos consultórios dentários, é comum entre os pacientes a torcida para que o dentista tenha mão leve. Já o sistema desenvolvido pela Superdont elimina esse problema, usando um jato de ar que sopra micropartículas de óxido de alumínio – substância abrasiva – com precisão milimétrica, exatamente no ponto onde está a cárie, destruindo o tecido cariado em poucos segundos. Assim, a força sobre o dente é feita pela regulagem da pressão ajustada na máquina, e não mais pela mão do dentista, como ocorre com as brocas. "Ou seja, com o nosso aparelho, o paciente não precisa mais contar com a sorte, pois todos os dentistas passarão a ter mão leve", comenta o entusiasmado inventor do produto. Entretanto, ele destaca que embora o aparelho seja capaz de perfurar um dente inteiro e até ossos, trata-se de tecnologia totalmente segura, que não requer um treinamento complexo. "O paciente pode ficar tranquilo, pois a sensação é de um leve vento soprando em sua boca", diz.

Comum na maior parte dos consultórios dos Estados Unidos e Europa, o sistema de microabrasão a ar até o momento só existe no Brasil na versão importada e, portanto, com altos custos e inacessível à maioria dos dentistas. "Enquanto o sistema importado custa em torno de R$ 20 mil, nosso aparelho, com a mesma qualidade, deverá custar cinco vezes menos", afirma Mazur. E prossegue: "As brocas de alta rotação usadas pelos dentistas se desgastam com relativa facilidade e, dependendo da marca e procedência, representam um custo significativo para os profissionais." Sendo assim, o novo sistema ainda proporciona uma enorme economia, pois dificilmente necessita de manutenção e o consumo de material abrasivo por paciente é baixo. Além disso, também permite maior rapidez no trabalho, já que enquanto algumas remoções de cáries e tártaro pelo método tradicional costumam demorar muito tempo, com o novo equipamento elas podem ser feitas em apenas poucos segundos.

Os dentistas Ricardo e Luciana Pinto foram os primeiros a utilizar o aparelho, ainda na versão antiga de 2001. Segundo eles, até o momento nenhum conserto foi necessário. Ricardo se mostra bastante satisfeito com o sistema e aguarda ansiosamente poder adquirir a nova versão do equipamento. "Quando descobri o sistema de microabrasão a ar, fiquei fascinado e fiz um curso para aprender a manuseá-lo", recorda. Mesmo deixando a propaganda de lado, seu trabalho fez sucesso a partir dos comentários boca a boca. E sua clientela aumentou bastante, principalmente entre o público infantil e jovem. "Quando digo a meus pacientes que a remoção de suas primeiras cáries será sem motor, eles ficam numa alegria só. Em 70% dos casos, a dor é inexistente; só o primeiro jato dói um pouco naqueles que têm dentes mais sensíveis, mas depois a dor cessa", acrescenta. A professora de idiomas Lúcia Ramos também testou a eficiência do novo equipamento e aprovou. "Quando fui remover uma cárie e, durante o atendimento, o dentista avisou que já havia acabado, não acreditei", lembra Lúcia. "Não senti nenhuma dor. Apenas um salzinho na boca, como se fossem grãos de areia. No caso de o jato atingir a gengiva, por exemplo, não machuca", complementa.

Izio Masur destaca que a saúde bucal dos brasileiros tem obtido enormes avanços nos últimos anos graças ao crescente incentivo financeiro governamental e a massificação dos tratamentos dentários no País por meio do programa Brasil Sorridente. "As universidades, bem como as indústrias de produtos médicos, também precisam se convencer de que não somos a Suíça, mas podemos usar a criatividade para reparar a nossa dívida social, e ela pode começar também a ser paga com saúde bucal. O País começa a viver novos tempos", completa. Dessa forma teremos mais motivos para sorrir. E sem vergonha de mostrar os dentes...


Fonte: FAPERJ
Saiba mais: Brasil Sorridente