De acordo com operadores de tráfego do BRT Transoeste, a maioria das colisões ocorre quando motoristas fazem bandalhas, cruzando perigosamente a faixa exclusiva do Ligeirão, em vez de pegarem o retorno correto. Segundo a CET-Rio, a colisão de ontem aconteceu porque o motorista fez um retorno proibido. Mas, para Antônio Pedrosa, a sinalização não ajuda.
— Ao longo do trajeto do BRT, há trechos onde não existe sinalização no chão avisando ao motorista que a pista é exclusiva para os ônibus articulados e que virar à esquerda é proibido. Pelo percurso passam muitos motoristas de outros estados, estrangeiros e até moradores da cidade que ainda não estão familiarizados com o corredor expresso. A culpa, porém, não é apenas da sinalização insuficiente. Falta educação aos motoristas, que insistem em fazer as bandalhas — avaliou Pedrosa.
De acordo com o especialista, as placas que indicam a localização dos retornos também são insuficientes. Para Pedrosa, elas deveriam informar sobre o desvio 200 metros antes do cruzamento. Um outro problema apontado pelo engenheiro é o tamanho da letra das placas, que não está compatível com a velocidade dos carros (80km/h nas faixas centrais). As placas colocadas nos sinais de trânsito com a indicação de que é proibido dobrar à esquerda também não são fáceis de serem visualizadas. Exemplo de improvisação é a faixa pendurada próximo à Estação Magarça, em Guaratiba, alertando que é proibido virar à esquerda. Além de estar dobrada, inviabilizando a leitura, ela está instalada paralelamente à via.
— As placas dos retornos foram colocadas muito em cima da passagem dos veículos. Nesse caso, há risco de acidentes — comentou o especialista do Crea.
O engenheiro Paulo Araújo, que trabalhou no Departamento de Estradas de Rodagem (DER), diz que o reforço na sinalização e campanhas educativas poderiam reduzir os acidentes:
— Pelo menos três vezes na semana, passo pelo percurso do corredor expresso. Já presenciei acidentes. Os motoristas avançam o sinal e não se importam com o BRT. Mas, além da falta de educação das pessoas, a prefeitura poderia investir pesado na sinalização, que deveria ser mais agressiva. Uma solução imediata seria a instalação de câmeras nos retornos, multando os motoristas que fizerem bandalha.
Ainda de acordo com Paulo Araújo, ao longo da Avenida Felipe Cardoso e da Estrada da Pedra, nas proximidades de Guaratiba e Santa Cruz, a pista do BRT é compartilhada com os carros. No trecho, não há pintura para diferenciar as faixas, além de a sinalização ser insuficiente:
— Essa pista compartilhada é um erro grosseiro. Caso permaneça dessa maneira, dezenas de acidentes ainda vão ocorrer nesse trecho.
Também na avaliação do engenheiro Fernando Mac Dowell, a deficiência na sinalização é um empecilho ao usuário. Para ele, há falhas no sistema operacional do BRT.
— A pintura da pista é parecida com a da ciclovia, o que facilita confusões. Nos cruzamentos, o gelo baiano também foi mal colocado. O correto seria que tivesse mais espaço para os carros passarem.
Sobre a falta de sinalização horizontal, a CET-Rio informou que não há no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) qualquer tipo de marca viária (pintura do pavimento) que regulamente a proibição de conversão à esquerda: “Essa regulamentação, ainda de acordo com o CTB, é expressa exclusivamente pela sinalização vertical, que está devidamente implantada ao longo do corredor Transoeste.” Quanto ao tamanho das letras, a companhia diz que as placas de regulamentação da faixa exclusiva foram feitas de acordo com as normas. Em relação aos retornos, eles estariam sinalizados desde as agulhas de transposição da pista central para a lateral: “Ainda que, por algum motivo, essa sinalização não tenha sido percebida, não há como aceitar que o motorista, estando na pista central e diante da placa de proibição de conversão à esquerda, insista na manobra irregular”, diz a CET-Rio.
No entanto, muitas das placas que indicam o retorno proibido estão longe das vistas dos motoristas, já que elas ficam junto à faixa exclusiva dos ônibus articulados e não perto da pista dos carros e demais veículos.
A CET-Rio argumenta ainda que iniciou campanhas de esclarecimento antes da implantação do BRT. E que elas serão intensificadas com cartazes externos nos ônibus.
Quanto ao trecho em que a pista é compartilhada, a companhia alega que o volume de tráfego no local é da ordem de mil veículos/hora por sentido, não sendo empecilho ao BRT.
Ainda de acordo com a prefeitura, a ONG Embarq realizou um trabalho de auditoria de segurança antes da implantação do BRT e está fazendo uma outra análise com o sistema em operação. A prefeitura se comprometeu a acatar as recomendações dessa auditoria externa.
Em relação aos atropelamentos, a prefeitura argumenta que as vítimas estavam fora da faixa de pedestres, caminhavam sobre a divisória da pista ou pela faixa exclusiva do BRT.
Mas uma reportagem do GLOBO mostrou que pelo menos 4 estações do BRT — Guinard, Gelson Fonseca, Pedra de Itaúna e Santa Mônica, todas no trecho entre a Barra e o Recreio — distam até 120 metros das faixas de pedestres.
O engenheiro Antônio Eulálio acredita que a instalação de temporizadores digitais, que fazem contagem regressiva da mudança do sinal, ajudaria a evitar atropelamentos.
Fonte: O Globo
Para saber mais: Estudos sobre BRT no Brasil