Um piscar de olhos é o que melhor ilustra o tempo entre a abertura do airbag e o início do seu desinflar. A operação dura 30 milésimos de segundos, graças à “explosão” da bolsa em uma velocidade média de 300 km/h. O sistema, que funciona como um complemento do cinto de segurança, começa a se popularizar no Brasil e, em 2014, será obrigatório nos carros novos. Mas exige cuidados para cumprir sua função.
O primeiro passo é entender como a tecnologia funciona. Muitas pessoas acham que em qualquer batida, principalmente as fortes, o airbag tem de abrir, obrigatoriamente. Mas não é bem assim. O gerente técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil), Marcus Romaro, afirma que a abertura depende de quanto o carro desacelera no impacto, e não da deformação. A densidade dos veículos e objetos envolvidos na colisão também influenciam.
“Você se machucou na batida? Se não, é porque não era para o airbag ser aberto”, diz Romaro, explicando que normalmente o airbag funciona em colisões que causam perda total no carro. “Ele é um complemento do cinto, mas em mais de 90% dos casos somente o cinto já garante a segurança”, acrescenta.
Foi o que aconteceu com o supervisor de manutenção elétrica e automação Avelar Neco Viveiros. O seu carro, uma Kia Sportage, sofreu uma colisão frontal com outro carro em uma estrada de Goiânia (GO), a uma velocidade de cerca de 100 km/h, segundo ele. “Uma Parati sem iluminação entrou na minha frente. A batida partiu no meio o radiador”, conta. Mesmo assim, os airbags frontais não abriram. Viveiros e sua mulher estavam com os cintos e ninguém se machucou.
O ângulo da batida também determina o funcionamento do equipamento. O colaborador do comitê de veículos leves da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Sergio Ricardo Fabiano, explica que as bolsas frontais abrem quando a batida ocorre em determinado ângulo da parte dianteira, assim como as laterais só abrem em colisões laterais. “Se bate na lateral, os airbags frontais não abrem. Os airbags de cortina, por exemplo, só abrem em caso de capotamento”, explica.
A “explosão” do airbag é, na verdade, uma reação química controlada por um módulo de abertura. Tal componente capta a desaceleração do veículo e “determina” a abertura por meio de um cabo de energia que faz a ligação do módulo com a bolsa. Ele emite uma corrente elétrica que ativa uma massa química formada por dois gases. Quando eles entram em contato, acontece a explosão controlada.
“A expansão da bolsa é a velocidade de propagação do gás formado nesta reação”, descreve Romero, do Cesvi. O elemento resultante é o nitrogênio, ou seja, não é prejudicial à saúde. O pó que sobe após a abertura é um tipo de talco, usado para o material da bolsa não grudar enquanto ela estiver dobrada no compartimento do carro.
Como se trata de uma explosão, os ocupantes de veículos com airbag devem ter cuidado redobrado com a postura dentro do carro. A mais importante delas é o uso do cinto de segurança. Obviamente, ele é indispensável em qualquer situação, mas nos carros com as bolsas protetoras, a pessoa que estiver sem cinto pode se machucar ainda mais. “Achar que pode usar o airbag sem cinto é o erro mais grave”, destaca Romaro. Isso porque a proporção da abertura do airbag é calculada levando em conta o trabalho do cinto de segurança, que segura, e muito, o corpo.
O perigo aumenta no banco de trás, onde normalmente as pessoas “esquecem” de colocar o cinto. “Hoje muitos modelos importados possuem airbag traseiro”, destaca Romaro. Outro aspecto importante é o posicionamento do banco em relação ao volante ou painel. O gerente técnico do Cesvi ressalta que o corpo deve estar distante, no mínimo, 20 cm em relação à direção. Já o passageiro do assento dianteiro deve estar o mais longe possível do painel: pés apoiados no porta-luvas, nem pensar. “A postura errada pode causar lesões gravíssimas”, alerta Fabiano, da SAE.
As mãos devem ficar na posição “dez para as duas”, como os ponteiros do relógio, e os braços não podem estar totalmente esticados. “Se o airbag infla, ele empurra sua mão para fora, o que pode causar sérias lesões”, ressalta Romaro.
Além de ser proibido por lei, o uso de cadeirinha de criança no banco da frente é mais perigoso em veículos com airbags. Crianças abaixo de 10 anos e pessoas baixas também correm riscos com airbags frontais. “Mas as novas gerações do sistema não trazem problemas a pessoas pequenas, pois a tecnologia permite calcular o peso do passageiro, e assim, controlar a intensidade da abertura e até mesmo se não deve abrir”, explica Romaro.
Dentre tantas especificações, os especialistas ressaltam que as pessoas que usam óculos não precisam se preocupar, caso sigam corretamente as indicações, como se manterem a uma distância mínima do dispositivo. “Essa história de que o airbag machuca o rosto de quem usa óculos é um mito”, ressalta o gerente técnico do Cesvi.
O sistema do airbag não exige cuidados periódicos com manutenção. Em média, as montadoras pedem para substituí-lo a cada dez anos. No entanto, todo o sistema é controlado eletronicamente e, em caso de problema, ele será indiciado por uma luz no painel.
“Se a luz indicadora do airbag acende e apaga quando se liga o carro, está tudo bem. Mas se o carro andar e ela continuar acesa, é preciso levar o carro a uma oficina ou concessionária para saber qual é o defeito”, explica o engenheiro Fabiano. “É importante sempre ler o manual do proprietário e seguir as indicações.”
Caso o veículo sofra um acidente e o airbag entre em funcionamento, aí sim será preciso trocar todo o sistema, o que inclui módulo, bolsas de ar, cabo, chicote, painel e volante, entre outros itens envolvidos na região afetada pela colisão.
O custo depende de cada montadora, assim como do valor da mão de obra e do modelo. No entanto, se considerar somente a troca da bolsa, módulo de abertura e cabo de um carro de entrada o conserto sairá, em média, por R$ 2 mil.
Porém, antes de começar a calcular o prejuízo, Romaro relembra que normalmente os airbags são acionados em caso de perda total do veículo, pois são batidas extremamente violentas, em que somente o cinto não consegue proteger as pessoas.
Fonte: G1