O Hospital Estadual da Criança, em Vila Valqueire, que começou nesta quarta-feira a fazer as primeiras consultas em crianças candidatas a transplantes, cadastrou quatro para receberem fígado de doadores vivos. As cirurgias devem começar na semana que vem, assim como as consultas para transplantes de rim. Segundo o coordenador de transplante de fígado, Lúcio Pacheco, o hospital já foi vistoriado pelo Sistema Nacional de Transplantes e está considerado apto para os procedimentos. O credenciamento, no entanto, ainda depende de uma publicação no Diário Oficial. Até lá, os transplantes serão feitos com base em resolução da Secretaria estadual de Saúde.
— Esse hospital resolve a demanda da população carioca. Nossa expectativa é fazer, em um ano, 20 transplantes pediátricos de fígado e 20 de rim. O hospital está capacitado para isso — diz Pacheco.
Os transplantes de rim e fígado em crianças aconteciam no Hospital Federal de Bonsucesso, único habilitado para o serviço, mas foram suspensos em dezembro por falta de médicos. Este mês, a menina Dricielle Ferreira Marcelino de França, de 11 anos, morreu na fila de espera por um rim. E Ana Paula Ferreira, de 3, morreu enquanto aguardava um transplante de fígado. Ambas eram pacientes do Hospital de Bonsucesso. Mas, segundo Pacheco, elas não tinham condições clínicas para os transplantes.
Apesar de o Hospital Federal de Bonsucesso não realizar transplantes desde dezembro, este ano, duas crianças e três adolescentes passaram por essa cirurgia no estado. Os procedimentos foram feitos no Hospital Antônio Pedro, em Niterói, no Hospital do Fundão (UFRJ) e no próprio Hospital de Bonsucesso. Segundo o Ministério da Saúde, o serviço de transplante renal e hepático do Hospital Federal de Bonsucesso, tanto para adultos como para crianças, será retomado na semana que vem. O presidente da Associação de Movimentos dos Renais Vivos e Transplantados do Rio (Amorvit-RJ), Roque da Silva, comemorou:
— Na próxima semana vamos fazer um ato em frente ao hospital para comemorar o retorno dos transplantes à unidade, que já realizava esse serviço há 32 anos. A abertura para transplantes no Hospital da Criança também será bem-vinda. Sentei por nove anos naquela cadeira para hemodiálise, sei o que é ser um renal crônico. Estou há 11 anos transplantado e ainda luto para receber os remédios contra a rejeição.
De acordo com Silva, há seis crianças na fila para transplantes de fígado e 18 na de rim. A Secretaria estadual de Saúde, porém, afirma que há três pacientes pediátricos na fila para transplante de rim e um na de fígado.
— O Estado do Rio não paralisou suas atividades ao longo deste ano. Agora estamos trabalhando para intensificar as doações e o número de transplantes. Nos últimos anos, o estado quase que triplicou o número de doações, passando de 80 em 2010 para 221 no ano passado. Finalizamos 2012 com 531 transplantes. Em 2010, haviam sido 261 — disse o coordenador do Programa Estadual de Transplantes, Rodrigo Sarlo.
As equipes médicas que farão os transplantes no Hospital da Criança serão as que trabalham no Centro Estadual de Transplantes, que funciona no Hospital São Francisco de Assis, na Tijuca. Inaugurado no início deste mês, o Hospital Estadual da Criança é o primeiro do Rio voltado para o atendimento pediátrico, inclusive para tratamento de câncer.
Fonte: O Globo