terça-feira, 13 de agosto de 2013

Contra crise, farmacêuticas investem em países emergentes

Dentro de pouco tempo a indústria farmacêutica terá uma cara completamente diferente da atual. Mudanças na dinâmica do mercado podem resultar em consequências severas para algumas das atuais líderes do mercado e facilitar o surgimento de novas gigantes globais – e tudo isso em um período menor do que cinco anos.

A situação, que requer cuidados e ações imediatas das empresas, está no foco das atenções da maioria dos executivos do setor. Pelo menos é o que indica uma pesquisa realizada pela consultoria Roland Berger e obtida com exclusividade pelo Brasil Econômico.

“É um momento de mudanças significativas no mercado, o que impõe alterações no modelo tradicional de negócios do setor”, afirma Jorge Pereira da Costa, sócio da Roland Berger no Brasil.

Segundo o estudo, 73% das empresas acreditam que o setor farmacêutico vive uma crise estratégica – resultado de fatores como mudanças no ambiente competitivo, o crescimento dos países emergentes e falhas na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.

Os principais afetados pelas mudanças previstas para o mercado nos próximos anos são os grandes grupos, que dominam o segmento há muitos anos.

“Essas empresas têm parte significativa de suas patentes vencendo, enfrentam pressões por menores preços de seus principais clientes, que são os seguros de saúde e os governos, e ainda por cima, enfrentam uma forte concorrência de empresas locais quando resolvem entrar em novos mercados”, diz Pereira da Costa.

A saída para mercados emergentes, que combinam maiores taxas de crescimento e necessidades mais simples de serem atendidas, é um dos principais caminhos encontrados pelas companhias para enfrentar a “crise estrutural”.

Hoje, apenas 24% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento são realizados nesses países. Dentro de 10 anos, o número deve saltar para 43%. Empresas como Sanofi, Pfizer, Novartis e Bayer já têm enxergado essa tendência e investido na construção de fábricas e laboratórios em países como Brasil, China, Índia e Arábia Saudita.

“O grande problema é que ao entrar nesses mercados, as gigantes multinacionais se deparam com líderes regionais e têm que enfrentar uma concorrência dura”, afirma Pereira da Costa.

No Brasil, por exemplo, as multinacionais respondem por apenas 45% das vendas feitas pelas 10 maiores empresas do setor. Em mercados ainda mais fechados, como a Rússia, o número é ainda menor – de apenas 9%.

“As companhias com forte atuação nesses mercados que souberem aproveitar esse momento podem se internacionalizar e se tornar novas líderes do setor.”

Além da disputa com empresas hoje consideradas regionais, as gigantes do setor farmacêutico têm que lidar também com problemas referentes a patentes. Laboratórios como a Pfizer, presidida por Ian Read, têm tido grandes perdas decorrentes do vencimento de direitos intelectuais sobre alguns de seus mais importantes produtos.

Recentemente, a empresa teve uma redução de 19% em suas receitas decorrentes do fim dos direitos de exclusividade para produzir o Lípitor, remédio contra o colesterol considerado o mais vendido de todos os tempos. Antes, a companhia havia passado por momentos parecidos.

Quando a patente do Viagra venceu, a Pfizer também não tinha nenhum outro remédio com o mesmo potencial de vendas para substituí-lo nas prateleiras das farmácias.

Casos como o da Pfizer são um bom símbolo dos impactos que podem surgir decorrentes da crise apontada pelo estudo da Roland Berger.

“As companhias já veem isso e começam a rever suas estratégias e modelos de negócios. Mas todo esse processo pode trazer mudanças significativas no quadro de grandes players do setor”, diz Pereira da Costa.

Fonte: Saúde Web