quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O problema do lixo no Rio

Dois anos depois da regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Rio encontra as previstas dificuldades para erradicar os lixões a céu aberto - e tem apenas mais um ano para isso, se quiser cumprir a lei. Se houve inegáveis avanços nos últimos cinco anos - o aterro sanitário de Seropédica recebe mais da metade dos resíduos do estado e enterra este material com o controle necessário - surgem agora barreiras e incógnitas preocupantes. Angra dos Reis, na Costa Verde, vai precisar desembolsar algo como R$ 790 mil a mais nos próximos 30 dias para descartar seu lixo diário em Seropédica. Sim, a 116km de distância. O motivo: com a troca de comando da prefeitura, a Locanty, operadora do aterro de Ariró, abandonou a operação do terreno. O que era um aterro sanitário virou um lixão. Casos semelhantes não são incomuns no estado.

O Ministério Público já sabe que alguns aterros tidos como sanitários são na verdade lixões disfarçados. O de Santa Maria Madalena é conhecido pelos técnicos que atuam no setor pela operação irregular. A falta de tratamento de chorume, o líquido resultante da degradação do material orgânico, é realidade até mesmo do moderno centro de tratamento de Seropédica. Há quatro meses, a empresa que opera o empreendimento foi multada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). De Seropédica, o chorume viaja até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Icaraí, em Niterói. Uma solução paliativa e pouco sustentável.

E assim passa o tempo, com o Estado do Rio colecionando soluções emergenciais. Quem paga a conta da má gestão, como sempre, é o contribuinte. A sede dos próximos Jogos Olímpicos tem na Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) um exemplo de empresa eficiente na varrição das ruas e espaços públicos. Como num passe de mágica, toneladas de lixo deixado nas praias "somem" rapidamente. A Comlurb tem um orçamento que ultrapassa os R$ 1,2 bilhão. Numa conta trivial, é como se cada um de nós cariocas reservássemos, todos os meses, R$ 189 para a Comlurb. A companhia, por sua vez, mantém uma coleta seletiva que não atinge 1% do total de lixo gerado na cidade, recolhe muitas vezes lixo de grandes geradores - uma atribuição que não é dela - e não tem promovido campanhas de conscientização ambiental.

Apenas com transparência, fiscalização adequada, políticas de incentivo ao reaproveitamento de recicláveis e cerco implacável a empresas e gestores municipais inidôneos será possível avançar firmemente, sem retrocessos. A quem interessa o panorama atual? Quanto você paga para dar uma destinação correta ao seu lixo? Há incentivo a quem separa os recicláveis do lixo orgânico em casa? As empresas que colocam materiais recicláveis no mercado têm se responsabilizado? Porque a gestão de resíduos não é regulada por uma agência estadual que existe para esta finalidade? O debate é amplo. Mas adiá-lo é empurrar para o lixão qualquer chance de o Rio efetivamente entrar no século XXI.

Fonte: Blog Verde