Não por acaso, o trânsito é um desafio permanente aos serviços de emergência, que lutam contra o tempo, entre outros fatores, para minimizar as consequências de uma tragédia que a prevenção ainda não conseguiu evitar.
A alta incidência de desastres nas rodovias é classificada como uma epidemia e um problema de saúde pública no país pelo cirurgião do Trauma Gustavo Fraga, presidente da SBAIT (Sociedade Brasileira de Atenção Integral ao Traumatizado). "Os números são alarmantes, sejam em rodovias ou na área urbana", afirma. Fraga pondera que a SBAIT dedica especial atenção ao tema e defende que a diminuição dos acidentes passa pelo envolvimento de todas as esferas do governo, das entidades de profissionais de saúde, dos órgãos da área de educação e do comprometimento de toda a sociedade.
"A redução das vítimas de trânsito no Brasil depende de ações de educação, desde o Ensino Básico e Ensino Médio nas escolas, da capacitação adequada dos condutores e orientação de pedestres, de uma maior fiscalização sobre as leis do trânsito, de campanhas continuadas de prevenção, entre outras medidas que gerem na população um comportamento mais responsável no que se refere ao trânsito", defende.
Em 95% dos acidentes em estradas federais, há presença de um veículo de passeio e a colisão traseira é o cenário mais comum, conforme dados do Anuário Estatístico das Rodovias Federais 2011, divulgado pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e PRF (Polícia Rodoviária Federal). As estatísticas também colocam Minas Gerais - estado de maior malha viária do país - na liderança do ranking de desastres em estradas federais, com 14,3% dos casos.
Em que pese o incremento das campanhas preventivas, as emergências rodoviárias seguem um gráfico ascendente. Entre 2005 e 2011, houve um aumento de 71,6% nas ocorrências e de 68,6% naquelas que resultam em vítimas, o que traduz a preocupação com a gravidade dos acidentes. No período, o crescimento da frota de veículos no Brasil foi similar: 67,7%, segundo dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Embora acompanhe o crescimento de veículos, não há qualquer indicativo de redução no número de acidentes. Para o chefe do departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Carlos Alberto Guglielmi Eid, a alta incidência é inaceitável em qualquer sociedade minimamente organizada. Segundo ele, as regras e as aparentes restrições individuais são a base para a proteção dos cidadãos desta mesma sociedade, cabendo a ela decidir o nível de restrição individual que deseja impor para uma proteção coletiva aceitável.
"Certamente, pelos números de acidentes e mortes que produzimos, as limitações não estão sendo cumpridas ou, então, precisam ser ampliadas", afirma.
Historicamente, a Abramet tem se posicionado com ações que atacam a problemática do trânsito. Entre elas, aperfeiçoou o exame médico para a concessão da Carteira Nacional de Habilitação com a criação de diretrizes médicas e protocolos. Também realizou cursos de capacitação dos médicos examinadores e congressos médicos especializados, produziu orientações aos médicos gerais sobre os efeitos de medicamentos que afetam a capacidade de dirigir, estudos científicos sobre efeitos do álcool e outras drogas, transporte veicular de crianças e de gestantes, entre outros.
Tais pesquisas servem de base para a legislação brasileira, como a resolução 432/2013 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que traz os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito na fiscalização do consumo de álcool ou de outra substância psicoativa. Para a redução efetiva dos números, a entidade recomenda o rigoroso cumprimento da legislação vigente, fiscalização, boas estradas, veículos em adequadas condições e motoristas capazes e conscientes de seu papel no trânsito.
Fonte: Revista Emergência
Reportagem de Rafael Geyger
Foto: Ascom - CBM-GO
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