domingo, 13 de abril de 2014

Corte de calorias reduz mortalidade e doenças ligadas a envelhecimento

Os últimos resultados de um estudo de 25 anos sobre dieta e envelhecimento em macacos Rhesus mostra uma significativa redução na mortalidade e nas doenças relacionadas à idade entre os primatas em dieta de restrição de calorias. O estudo, que começou na Universidade Wisconsin-Madison, nos EUA, em 1989, está em andamento e faz parte do esforço a longo prazo para examinar os efeitos da dieta de restrição calórica em não humanos.

O estudo com 76 macacos Rhesus, publicado na revista “Nature Communications”, foi conduzido pelo Centro de Pesquisas com Primatas em Madison. Quando eles tinham entre 7 e 14 anos de idade, os macacos começaram a comer uma dieta com redução de 30% das calorias. O grupo de controle, que comia à vontade, teve o risco de doenças (e consequentemente de mortes) aumentado em 2,9 vezes.

- Acreditamos que mecanismos de combate ao envelhecimento nas restrições calóricas dão pistas que levarão a medicamentos e outros tratamentos para frear o início de doenças e morte - diz o professor Richard Weindruch, da Escola de Medicina e Saúde Pública e um dos fundadores do estudo.

A restrição da ingestão de calorias (ao mesmo tempo que há um contínuo fornecimento de nutrientes essenciais) prolonga o tempo de vida de moscas, levedura e roedores em 40%.

- Nós estudamos a restrição calórica porque tem um forte efeito sobre o envelhecimento e a incidência de doenças relacionadas ao envelhecimento - explica Rozalyn Anderson, professora assistente de geriatria. - Mas as pessoas estão estudando drogas que afetam os mecanismos que atuam na restrição calórica. Há enorme interesse do setor privado em algumas dessas drogas.

Um influente relatório de 2012 sobre 120 macacos em estudo no Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA, na sigla em inglês) não relatou diferenças na sobrevivência dos animais em restrição calórica e mostrou uma tendência para a melhoria da saúde que não alcançou significância estatística.

A discrepância do relatório de 2012 em relação ao trabalho atual pode ser um resultado de como a alimentação foi implementada em animais de controle no estudo do NIA, dizem os pesquisadores de Wisconsin. O cientista Ricki Colman, do Centro de Pesquisas com Primatas de Wisconsin, que atualmente colidera o projeto, sugere que os macacos de controle do NIA eram realmente de restrição calórica.

- Em Wisconsin começamos com adultos. Sabíamos quanta comida eles queriam comer, e baseamos nossa dieta experimental em uma redução de 30% de calorias a partir desse ponto. Já os macacos NIA foram alimentados segundo um gráfico de ingestão de alimentos normalizado concebido pela Academia Nacional de Ciência.

A restrição calórica se tornou uma espécie de moda há duas décadas, quando alguns indivíduos se propuseram cortar as calorias que ingeriam em 30% para retardar as doenças do envelhecimento, mas os estudos de Wisconsin e NIA têm um foco muito mais amplo.

- Não estamos estudando isso para que as pessoas possam fazer, mas para aprofundar as causas subjacentes de doenças relacionadas à idade - diz Anderson. - É uma ferramenta de pesquisa, e não uma recomendação de estilo de vida.

Muitos dos benefícios da restrição calórica estão ligados à regulação da energia, diz Anderson, o que afeta a forma como o combustível é utilizado. Restrição calórica provoca essencialmente uma reprogramação do metabolismo. Em todas as espécies em que foi usada para retardar o envelhecimento e as doenças decorrentes o envelhecimento, mostrou que afeta a regulação da energia e da capacidade das células e do organismo de responder às mudanças do ambiente à medida que envelhecem.

Entre os déficits de metabolismo está o diabetes, visto como “inabilidade a responder propriamente aos nutrientes”. A doença danifica gordura, músculos, vasos sanguíneos e até o funcionamento do cérebro. Neste estudo, os pesquisadores puderam observar o surgimento da doença nos animais de controle, aqueles sem restrição calórica.

- Até dois anos atrás não tínhamos evidências de diabetes em nenhum animal com restrições calóricas, mas agora temos um número significativo de diabetes ou pré-diabetes e síndrome metabólica nos animais de controle - revela o pesquisador

(O Globo)