segunda-feira, 10 de novembro de 2014

No Acre, mãe e filha voltam a ouvir após implante

"Me emociono vendo ela tentar falar algumas palavras, antes ela não falava nada', declara Erlene Paiva, de 25 anos, ao se referir à filha de cinco anos, Ana Cristina Oliveira. Há um mês, ela e a filha foram submetidas a uma cirurgia para um implante coclear. Pela primeira vez na vida, a pequena Ana Cristina conseguiu ouvir sons. A cirurgia ocorreu no Hospital das Clínicas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. 




Com surdez severa [quando nenhum som de fala é audível em tom de conversação normal], mãe e filha foram internadas no hospital no dia 7 de setembro e três dias depois operadas. A cirurgia de Ana Cristina durou 3h, enquanto a de Erlene demorou 4h para ser finalizada. Erlene perdeu a audição aos 7 anos de idade, mas com a ajuda de um Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) conseguia ouvir e entender o que as pessoas diziam por meio de sinais e leitura labial. Para Erlene de Paiva, a cirurgia foi mais do que uma chance de ouvir os sons ao seu redor.

"Sofri muito preconceito na escola e nos lugares onde eu ia. As pessoas não compreendiam o que eu falava e nem sabiam se comunicar comigo. Às vezes quando chegava da escola, me trancava dentro quarto e não queria falar com ninguém, porque quando falava as pessoas me corrigiam, pediam para falar certo. Eu falo assim, não tem como eu mudar", conta Erlene ainda com dificuldade em se expressar.

A mãe acredita que a cirurgia representa a possibilidade de uma vida normal para filha, longe das dificuldades enfrentadas por ela. "Não quero que ela passe pelo que eu passei, quero que ela tenha uma vida normal como qualquer outra criança", explica.

A vida de Erlene também tem mudado bastante desde que fez a cirurgia. A comunicação e a convivência com as pessoas ao seu redor melhorou. "Parece que a vida foi melhorando, passei a me comunicar mais com as pessoas, porque antes só falava com meu marido. Comecei a sair mais", conta.

Pai de Ana Cristina e marido de Erlene, Marivaldo de Paula lembra as dificuldades para conseguir a cirurgia e diz que faria tudo de novo. “As dificuldades fizeram todo diferencial, se não fosse difícil talvez não tivesse sido tão emocionante. Na hora eu revivi todas as dificuldades que passamos”, diz.

Sobre o que sentiu ao ver sua filha ouvindo pela primeira vez, o pai não contém a emoção. “Quando tiraram ela [Ana Cristina] dos meus braços eu chorei muito, senti muito medo, senti um desespero. Primeiro foi a Ana para sala de cirurgia, quando acabou levaram minha esposa e eu fiquei aflito do lado de fora. Depois da recuperação, a Ana fez um teste com a fonoaudióloga e quando ela ouviu foi uma reação muito linda pareceu que ela tinha recebido uma dose de ânimo. Foi muito lindo”, conta emocionado.

(G1)