domingo, 18 de janeiro de 2015

Presidente da Cedae prevê uso inédito do volume morto de Paraibuna ainda este semestre

A crise hídrica que atingiu em cheio São Paulo nos últimos meses está prestes a alcançar um novo recorde negativo, com reflexos no abastecimento do Estado do Rio. O maior reservatório do Rio Paraíba do Sul, localizado em Paraibuna, no Vale do Paraíba paulista, está com apenas 0,38% de sua capacidade. Se o regime de chuvas na região continuar abaixo das estimativas dos meteorologistas, não haverá outra saída a não ser utilizar o volume morto — também chamado de reserva técnica — do Paraibuna ainda no primeiro semestre. O novo presidente da Cedae, Jorge Briard, afirmou que a empresa já consultou Light, Furnas e Companhia Energética de São Paulo (Cesp) sobre a qualidade das águas dessas reservas até hoje não exploradas. Especialistas estimam que o volume morto do reservatório de Paraibuna — que opera desde 1978 e é considerado o “coração do sistema” — tenha 400 milhões de metros cúbicos, o que seria suficiente para garantir o abastecimento de cidades de São Paulo, Rio e Minas por até três meses.




Briard ressalta que a situação hídrica da Região Metropolitana do Rio ainda é confortável, mas reconhece que técnicos esperavam um volume maior de chuva de outubro a novembro passado, o que não aconteceu. A seca exigirá soluções criativas e novos estudos de engenharia nos próximos meses, destaca o novo presidente da Cedae.

— A utilização dos volumes mortos não nos assusta. Vamos ter mais dificuldades, e estamos estudando, junto com outros atores, tecnologias para soluções alternativas de captação de água. Precisamos estar preparados para novos cenários de crise. Vamos prolongar a vida útil desse sistema o máximo possível — diz Briard, que pediu apoio da população contra o desperdício. — Não temos perspectiva, em 2015, de problemas de abastecimento de água no Grande Rio. Entretanto, é importante que a população seja parceira. O sentimento de que a água é um bem finito deve ser de todos. A falta de chuva está prolongada. A Cedae vai fazer a sua parte. Vamos estabelecer um prazo menor para atender a denúncias de vazamento — diz.

Na avaliação do pesquisador Paulo Carneiro, da Coppe/UFRJ, especialista em recursos hídricos, “tudo aponta que medidas de racionamento precisarão ser tomadas”, inclusive no Rio. Ele acrescenta que o uso de volume morto de barragens do Paraíba do Sul não é uma operação tão simples:

— As válvulas de fundo do reservatório de Paraibuna não foram projetadas para esse tipo de uso. Além disso, o uso do volume morto pode adiar o problema para 2016.

Briard volta a afirmar que uma mudança tarifária da Cedae, estabelecendo alívio nas contas de quem consome de forma mais racional, não está entre as prioridades da empresa. O novo critério foi defendido pelo secretário estadual do Ambiente, André Corrêa. Atualmente, 75% dos cerca de dez milhões de clientes da Cedae consomem até 15 metros cúbicos de água por mês, e, por isso, pagam uma tarifa básica fixa.

— Nosso sistema já pune fortemente quem ultrapassa o volume mínimo. Vamos implementar um trabalho forte em recadastramento de clientes e instalação de hidrômetros. A recuperação comercial da empresa virá acompanhada da melhoria de abastecimento — diz Briard.

O novo presidente da empresa de saneamento acrescenta que a companhia deverá investir aproximadamente R$ 6 milhões em obras de melhoria na captação de água nas cidades de Barra do Piraí, Vassouras, Paraíba do Sul, Sapucaia, São Fidélis e São João da Barra. A vazão baixa do Rio Paraíba do Sul tem dificultado o abastecimento de municípios localizados em suas margens.

Briard diz ainda que não espera usar este ano a reserva estratégica de água da represa de Ribeirão das Lajes, em Piraí:

— As águas de Lajes têm alta qualidade, e o reservatório tem um tempo de recomposição de volume muito lento, pois é abastecido por um único túnel, ligado ao Rio Piraí. Não pensamos em mexer este ano. Lançar mão de Ribeirão das Lajes hoje é uma temeridade, seria colocar a carroça na frente dos bois.

O presidente da Cedae afirma também que a Secretaria estadual de Obras fará nova licitação das intervenções necessárias para reduzir a poluição nos rios do Sistema Guandu. Mas as obras só devem ficar prontas em 2018.

Depois de oito anos sob o comando de Wagner Victer, a Cedae passa a ser administrada pelo engenheiro civil Jorge Briard. Neto e filho de técnicos em tratamento de esgoto, Briard é funcionário de carreira da companhia, onde entrou em 1984, como servente. Desde então, assumiu diversos cargos — há oito anos chefiava a Diretoria de Operação. Criado em Piedade, é torcedor do Fluminense e pai de quatro filhos, com idades entre 7 e 31 anos, de três casamentos. Briard foi uma escolha pessoal do governador Luiz Fernando Pezão. Afirmando “não ter padrinho político”, garante que exigirá dedicação total dos 6.200 funcionários da Cedae.

(O Globo)