No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff
sancionou a lei do vale-cultura — uma reivindicação antiga do setor, espécie de
vale-transporte, mas voltado para o gasto de trabalhadores com atividades culturais
—, dois órgãos vinculados ao Ministério da Cultura (MinC) clamam por outro tipo
de vale. Um vale-refrigeração. Desde maio, o sistema de ar-condicionado da
Biblioteca Nacional, no Centro, está desligado, provocando temperaturas de 47
graus, 100% acima do ideal para o acervo, e reduzindo a visitação. Próximo
dali, o Palácio Gustavo Capanema até hoje não conta com refrigeração central, e
os funcionários vêm passando mal devido às altas temperaturas. Na manhã desta
quinta-feira, um termômetro comprado por servidores marcou 44 graus.
Os presidentes das associações de servidores de órgãos vinculados ao
MinC enviaram nesta quinta-feira uma carta à ministra da Cultura, Marta
Suplicy, reclamando da “falta de condições de trabalho no calor extremo”. Desde
2009, os servidores vêm pedindo providências em função de casos de “mal-estar e
problemas relacionados à pressão arterial”. A carta sugere ainda medidas
alternativas enquanto não houver uma solução definitiva, como “a racionalização
dos turnos e jornada de trabalho ou transferência temporária do pessoal para outro
prédio que ofereça condições”. Pouco depois de assumir o Ministério da Cultura,
há três meses, Marta Suplicy afirmou que destinaria R$ 70 milhões para
melhorias na estrutura da Biblioteca Nacional, e que buscaria uma solução
rápida para a falta de ar-condicionado.
— Há um descaso enorme com os servidores. Durante o resto do ano ainda
conseguimos suportar, mas quando o verão chega as pessoas passam mal, alguns
desmaiam — reclama Paula Nogueira, presidente da Associação dos Servidores da
Funarte.
Tanto no Capanema quanto na Biblioteca Nacional, os funcionários tiveram
que espalhar ventiladores para suportar o calor. Na Biblioteca, cada setor
recebeu 15 aparelhos. No balcão de consultas aos periódicos, um pequeno
ventilador foi colocado ao lado de cinco computadores. Nos armazéns onde estão
arquivados livros e periódicos, os funcionários costumam apagar as luzes para
tentar amenizar o calor. A frequência caiu. O setor de obras gerais, que
recebeu 1.800 visitantes em novembro de 2011, com o ar-condicionado em funcionamento,
teve apenas 1.300 visitantes, no mesmo mês este ano. Há risco para o acervo que
precisa de temperaturas entre 20 a 22 graus, segundo o site da própria
Biblioteca.
No Palácio Gustavo Capanema, os pedidos para uma solução são feitos há
três anos. Em dias quentes como o desta quinta-feira, cerca de 3 mil
funcionários sofrem com o calor. Nos últimos dias, uma funcionária teve que ser
retirada do prédio após sentir tonturas e falta de ar. Por meio de nota, o
Ministério da Cultura informa que fará, em 2013, obras para a restauração total
do prédio, que prevê sistema de ar-condicionado independente “para diversos
ambientes”.
Fonte: O Globo
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