sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dentro da Biblioteca Nacional, 47 graus à sombra dos livros


No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei do vale-cultura — uma reivindicação antiga do setor, espécie de vale-transporte, mas voltado para o gasto de trabalhadores com atividades culturais —, dois órgãos vinculados ao Ministério da Cultura (MinC) clamam por outro tipo de vale. Um vale-refrigeração. Desde maio, o sistema de ar-condicionado da Biblioteca Nacional, no Centro, está desligado, provocando temperaturas de 47 graus, 100% acima do ideal para o acervo, e reduzindo a visitação. Próximo dali, o Palácio Gustavo Capanema até hoje não conta com refrigeração central, e os funcionários vêm passando mal devido às altas temperaturas. Na manhã desta quinta-feira, um termômetro comprado por servidores marcou 44 graus.
Os presidentes das associações de servidores de órgãos vinculados ao MinC enviaram nesta quinta-feira uma carta à ministra da Cultura, Marta Suplicy, reclamando da “falta de condições de trabalho no calor extremo”. Desde 2009, os servidores vêm pedindo providências em função de casos de “mal-estar e problemas relacionados à pressão arterial”. A carta sugere ainda medidas alternativas enquanto não houver uma solução definitiva, como “a racionalização dos turnos e jornada de trabalho ou transferência temporária do pessoal para outro prédio que ofereça condições”. Pouco depois de assumir o Ministério da Cultura, há três meses, Marta Suplicy afirmou que destinaria R$ 70 milhões para melhorias na estrutura da Biblioteca Nacional, e que buscaria uma solução rápida para a falta de ar-condicionado.

— Há um descaso enorme com os servidores. Durante o resto do ano ainda conseguimos suportar, mas quando o verão chega as pessoas passam mal, alguns desmaiam — reclama Paula Nogueira, presidente da Associação dos Servidores da Funarte.

Tanto no Capanema quanto na Biblioteca Nacional, os funcionários tiveram que espalhar ventiladores para suportar o calor. Na Biblioteca, cada setor recebeu 15 aparelhos. No balcão de consultas aos periódicos, um pequeno ventilador foi colocado ao lado de cinco computadores. Nos armazéns onde estão arquivados livros e periódicos, os funcionários costumam apagar as luzes para tentar amenizar o calor. A frequência caiu. O setor de obras gerais, que recebeu 1.800 visitantes em novembro de 2011, com o ar-condicionado em funcionamento, teve apenas 1.300 visitantes, no mesmo mês este ano. Há risco para o acervo que precisa de temperaturas entre 20 a 22 graus, segundo o site da própria Biblioteca.
No Palácio Gustavo Capanema, os pedidos para uma solução são feitos há três anos. Em dias quentes como o desta quinta-feira, cerca de 3 mil funcionários sofrem com o calor. Nos últimos dias, uma funcionária teve que ser retirada do prédio após sentir tonturas e falta de ar. Por meio de nota, o Ministério da Cultura informa que fará, em 2013, obras para a restauração total do prédio, que prevê sistema de ar-condicionado independente “para diversos ambientes”.

Já a Fundação Biblioteca Nacional informou que o sistema complementar de ar-condicionado foi reformado em novembro, mas ainda está em fase de teste. Também garantiu que há um “permanente monitoramento de temperatura das áreas com guarda de acervo”.


Fonte: O Globo
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